Ecochatos e ecocéticos

                                                                            Jessé Souza*

                                                              Foto: Exército


Um assunto tem passado ao largo dos comentários das autoridades locais: a operação da Polícia Federal, no início do mês, que desmontou uma organização criminosa que contratava garimpeiros para retirar ouro da Terra Indígena Yanomami para vender o minério no centro financeiro de São Paulo, por meio de comercialização ilegal via comércio de ouro em Boa Vista.

A imprensa nacional está de olho tão simplesmente na exploração do minério, feito de forma criminosa, o que deixa estragos no meio ambiente e a pobreza para os índios. Mas tem algo muito mais valioso para nós, roraimenses, do que o próprio ouro contrabandeado aos montes para uma poderosa empresa paulista. Trata-se da água.

A extração ilegal de ouro provoca estragos irreparáveis nos rios localizados ao Norte de Roraima, os quais acabam desaguando nos afluentes que formam nosso principal manancial de água potável, o Rio Branco. Isso representa um grande risco para o futuro do Estado no que diz respeito à segurança de mananciais de água potável e, consequentemente, o abastecimento de água para as cidades.

Se São Paulo está buscando ouro em Roraima, onde praticamente nascem alguns de nossos mananciais, o povo de lá sabe que não tem como canalizar água para abastecer seus rios, pois todos foram secularmente agredidos até chegar à situação atual. Se não houver uma preocupação redobrada com esse grave problema aqui, não tardará para entrarmos em um processo semelhante de seca.

Não custa lembrar que não bastam a poluição e as agressões ao meio ambiente para provocar catástrofes na Amazônia. O regime de chuvas e as secas anuais impõem duras cheias ou fortes secas que comprometem não só abastecimento de água, mas a vida das pessoas e a economia das cidades, a exemplo do que ocorreu em Roraima este ano, com a forte estiagem.

Significa que é necessário cuidado redobrado não só com a exploração de minério de forma ilegal, como estava fazendo a organização criminosa paulista, mas com as ações e empreendimentos que dizem respeito ao meio ambiente, pois vivemos na tênue linha entre desenvolvimento e preservação.

Na atual conjuntura, não se trata apenas de uma discussão entre “ecocéticos” e “ecochatos”. A realidade de São Paulo já comprovou aonde vamos parar, caso não tomarmos os devidos cuidados. Enquanto a população de lá sofre com desabastecimento, suas organizações empresariais localizadas no centro financeiro paulista não hesitam em arrancar nossas riquezas, provocando grandes riscos aos nossos mananciais de água potável.


P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com

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