O preço da invasão 

Jessé Souza*

A indústria da invasão de terras públicas e particulares é consequência dessa cultura que se instalou em Roraima de que é preciso ter na política a forma de se dar bem ou de conseguir algum benefício pessoal ou familiar. Se os políticos dão mau exemplo lá em cima, então o restante da sociedade, aqui em baixo, sente-se autorizada a agir na esperteza.

O que muitos não querem perceber é que esta esperteza tem um preço muito alto para todos, pois submeter-se ao expediente de pedintes oficiais significa vender ou trocar o voto. E negociar o voto, por sua vez, é manter no poder os mesmos políticos que afundaram o Estado de Roraima nessa política partidária movediça.

O exemplo para que existam tais movimentos invasores também vem de cima, dos políticos que promoveram o maior butim agrário jamais visto em Roraima, quando autoridades dos mais altos gabaritos se apropriaram feito aves de rapina das terras repassadas ao Estado pela União. Lotearam o Estado e privatizaram o que deveria ser terras produtivas servindo ao desenvolvimento.

No meio dos invasores que alimentam esta indústria criminosa estão os sem-tetos que buscam seu lugar ao sol. Estas pessoas só conseguem ser instrumentos de manipulação porque os programas habitacionais não estão chegando àqueles que realmente necessitam, havendo fortes indícios de desvios de finalidade que conta com a conivência de autoridades.

Além disso, as investidas que os invasores fazem a terras públicas servem de incentivo, a exemplo da ocupação do que hoje é o bairro São Bento, que começou como “bairro Brigadeiro”. A área fica espremida entre o que foi o lixão de Boa Vista, a lagoa de estabilização e áreas de preservação permanente.

Hoje o poder público ainda luta para evitar que essas áreas com restrição não sejam ocupadas por invasores, isso sem contar que qualquer movimento para se apropriar dessas terras sempre conta com apoio de um político com ou sem mandato, os quais hipotecam apoio pensando na próxima eleição.

Como o pleito de 2016 praticamente já começou nos bastidores, a onda de invasões não vai cessar.  Os últimos escândalos envolvendo políticos servirão de desculpa para as lideranças de tais movimentos tentarem ocupar lotes urbanos e rurais, como se a corrupção lá em cima fosse permissão para o povo agir de forma errada.

É necessário que os chamados “fiscais do povo”, os parlamentares em todos os níveis, comecem combatendo a indústria da invasão monitorando a forma como os programas habitacionais escolhem os beneficiados. Depois, fariam um grande favor se não prometessem apoio ou desse qualquer esperança a quem vive querendo invadir terras, a não ser encaminhá-los aos programas oficiais. Isso já seria um grande começo para mudar este quadro.


*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com

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