Vírus reacionário


Jessé Souza*


Com a popularização da internet, um movimento reacionário que vivia oculto ganhou força. As pessoas estão sendo bombardeadas para que percam qualquer esperança em mudar a realidade, como se não houvesse vida fora do capitalismo, que direitos humanos são coisa de desocupados, que defender meio ambiente é para lunáticos, que a meritocracia é inquestionável e que tirar presidente eleito é como se fosse um jogo de futebol.

Os reacionários assustam. Porém, o pior é que muita gente passou não apenas a acreditar neles, mas a absorver as ideias como se fossem uma bíblia tão reacionária quanto qualquer religioso fanático. E a vida particular, sexual ou não, passa a ser de interesse coletivo, passível de punição com base nas leis do céu ou da justiça dos homens.

Nas ideias reacionárias, não há divisão de religião do que é atribuição do Estado. Os fanáticos apelam para tudo, para a Bíblia, para as leis e preconceitos a fim de satisfazer seus pensamentos e atitudes contra aquilo que seria de interesse íntimo ou particular, ou que vise frear a alucinação de políticos corruptos, dos destruidores do meio ambiente, dos desrespeitadores dos direitos humanos e dos que acham que o consumismo é o fim em si mesmo, e que se dane quem achar ruim.

Quem acredita na transformação do mundo para melhor é tachado logo de retardado. Os defensores de um mundo melhor passam a ser “inimigos da sociedade”, do “desenvolvimento”, do “Estado” e do “caminho natural das coisas”. Nesta concepção, a única lei boa é a do esfolamento, do achincalhamento, do avançar a qualquer custo.

Jovens que mal começaram a caminhar são bombardeados diariamente com ideologias retrógradas como se fosse algo novo, um caminho sem volta do mundo, em que é preciso se contentar para manter tudo como está; e não é permitido mais consertar, frear, aliviar, revitalizar, preservar, defender e contrapor o consumismo e o capitalismo.

Quem tenta argumentar é logo tachado de “comunista” ou “petista”. Quem defende suas posições pessoais é visto como “problema” e os que não se enquadram estão automaticamente condenados ao inferno em nome de Deus. E muitas crianças estão aprendendo isso desde muito cedo, aprendendo a ser reacionárias.

Existe um complô para fazer as pessoas a desacreditarem em si mesmas e nas outras, para desmobilizá-las em favor de gigantes e poderosos que querem um caminho livre para seus mercados, seus negócios, seus faturamentos que não podem ser atingidos por ativistas, leis, mobilizações e gente que defenda frear a lógica do “desenvolver a qualquer custo”. Então, se você sentir vergonha de defender fracos e oprimidos, lutar por seus direitos, defender o meio ambiente ou os direitos humanos, saiba que já começou a ser infectado (ou já está infectado)...

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 
*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com

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