De baixo para cima



Jessé Souza*


Eu não fico buscando privilégios. Só busco o que for justo. E reclamo se algum direito não apenas meu, mas também coletivo, estiver sendo transgredido. E foi o que ocorreu esta semana passada, quando me dirigi a um órgão público tirar um documento. Cheguei cedo, mas não mais cedo do que muitos que já estavam ali antes de o sol raiar.

A fila começa na frente do prédio, exatamente na calçada, onde as pessoas têm apenas duas opções: ficar em pé ou sentar na sarjeta, mesmo que lá, na área externo do órgão, dentro dos muros, aja um corredor de espera com várias cadeiras.

Não me incomodo de ficar na fila nem procuro conhecidos ou esperteza para não ficar na espera, assim como os demais. E ficamos ali, sentados na calçada, olhando o trânsito fluir, na movimentada avenida, até o vigia liberar a entrada.

Embora o expediente estivesse marcado para começar às 7h30, não se via movimento para iniciar o atendimento, pois nem todos os servidores haviam chegado ao trabalho no horário certo. E todos, pacientemente, aguardando. Menos eu, pois já havia passado meia hora do estipulado para começar o atendimento ao público.

O desenrolar da história não é importante. O essencial nisso é analisar como o público é submetido ao atendimento em um país onde muitos se acham na razão de criticar e até xingar políticos que não cumprem com suas obrigações. Porém, estas mesmas pessoas não cumprem com os seus deveres para os quais são contratados e pagos com o dinheiro público.

Não iremos mudar esse país achando que a culpa está somente lá em cima, nos políticos, enquanto cada um de nós não cumprirmos com nossas obrigações de cidadão, de servidor público, de funcionário do setor privado ou em qualquer atividade que movimente a economia e envolva a cidadania neste país.

É verdade que a corrupção que graça o Brasil é o que nos leva para o buraco, mas somos nós que colocamos esses políticos no poder e somos nós que temos a obrigação de mudar condutas para o que aquilo que é público, apesar dos pesares, funcione em favor da coletividade.

Há um comportamento quase cultural de achar que somente os políticos devem trabalhar e que, se eles agem na base da corrupção e da malandragem, nós, aqui na base da pirâmide, também devemos fazer o mesmo, pois achamos que não temos nada a ver com essa esculhambação geral da nação.

É preciso que cada um de nós cumpra com o dever de cidadão, que ajamos de forma correta e na base da honestidade com o bem público e com o atendimento ao público para que possamos ter respaldo para cobrar os políticos e execrar os ladrões, os indolentes e os espertalhões. De que adianta apontar o dedo para o corrupto e o indolente, se agimos da mesma forma, em escala menor, aqui embaixo? Que respaldo teremos? Como vamos mudar o Brasil desse jeito?

Então, e-mails para a Redação...

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 
*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com

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