Fronteiras livres

Jessé Souza*

Nesses últimos meses, atravessei a fronteira com a Venezuela, ao Norte, e Guiana, a Leste, sem ser parado uma única vez pela fiscalização. Em uma delas, eu estava com meus filhos pequenos. Isso significa que, se eu tivesse praticando algum crime, não teria dificuldade em concretizá-lo ao atravessar para terras internacionais.

É apenas um exemplo da facilidade com que o mundo do crime tem para praticar ações em Boa Vista e ir embora sem ser incomodado. E isso se tentar passar pelos postos de fiscalização, tanto do lado brasileiro quanto do lado estrangeiro, pois as fronteiras por caminhos clandestinos estão livres completamente.

Pelo fato de o Estado de Roraima fazer fronteira com dois países, deveria haver um cuidado maior no combate à criminalidade, com implantação de serviços de fiscalização efetiva não somente nos postos fiscais, mas na extensão territorial onde não há estrada ou ponte.

Deveria haver o mínimo de investimento para se ter um patrulhamento motorizado que percorresse os limites territoriais, tanto por terra quanto pela água e pelo ar, com uso da tecnologia, como os drones, por exemplo. E isso não custa caro em se tratando que o avanço tecnológico tem feito cair preços dos equipamentos.

Porém, a realidade está muito distante de ser o mínimo do ideal. A fiscalização se resume a postos fixos que não funcionam de forma eficiente porque não há pessoal em quantidade suficiente e, quando tem, os governos não conseguem pagar a diária para manter policiais nas fronteiras.

Na divisa com a Guiana, por exemplo, criminosos de toda ordem atravessam  pelo Rio Tacutu a pé ou pela água na maior na facilidade. As polícias só conseguem agir quando há denúncia ou quando os policiais atuam na boa vontade, sem estrutura e sem apoio. Na maioria das vezes, é a Polícia Militar com seu pouco efetivo, sem carro, que consegue prender traficantes e foragidos em atitudes suspeitas.

Na fronteira com a Venezuela, a preocupação maior é com o contrabando e o descaminho, ou seja, o fisco querendo pegar as pessoas que tentam complementar sua renda ou faturar alto com produtos trazidos de forma ilegal, sem pagar os impostos ou que não tenham autorização legal para serem vendidos no Brasil.

A facilidade de ir para aquele vizinho pode ser medida pelos foragidos da Justiça roraimense que ficam na praça de Santa Elena de Uairén, todo final de tarde, para usar o Wi-Fi de graça daquele país e se comunicar com familiares ou comparsas em Roraima.

E assim o crime vai ganhando forças para se organizar, com o tráfico de droga e de armas se ampliando, sendo responsável pela maioria dos crimes cometidos em Boa Vista. E as polícias sem os investimentos necessários para enfrentar a bandidagem, que encontram as fronteiras livres para o crime. Assim não há como vencer a criminalidade no Estado. As polícias só irão “enxugar gelo”.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com

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