Nossa cria e nossa cara


Jessé Souza*

As notícias sobre a investigação do propinoduto da Petrobrás, que chegou ao ex-presidente Fernando Collor, hoje senador da República, nada mais são do que o retrato da situação da política brasileira. Mesmo depois de sofrer impeachment, ele voltou à política por meio do voto como se nada tivesse ocorrido.

Os eleitores sequer lembraram do confisco da poupança, colocado em prática no governo Collor, provando que pode até meter forte a mão na poupança que o brasileiro nem se importa e nem sente (sem trocadilho). Isso prova que a corrupção nunca foi empecilho para o eleitor votar ou deixar de votar em políticos.

Embora muitos queiram fazer crer que a corrupção no Brasil tornou-se invenção de um único partido, a saga de Collor na política brasileira representa bem como se dá bem, mesmo que tenha sido pego com a “mão na botija” e enxotado do cargo por meio do clamor público e decisão do Congresso.

A política brasileira tornou-se isso mesmo: o cara rouba, fica milionário, diz que “rouba, mas faz” ou que “rouba, mas deixa tudo no Estado onde mora”, e consegue se eleger e se reeleger sem que tenha de se explicar para a sociedade e para a Justiça. É o grande negócio do mercado eleitoral, cujo aval é dado por ninguém menos do que o próprio eleitor.

Na esculhambação geral da nação, a política tornou-se um negócio lucrativo, em que empreiteiras bancam o corrupto para que ele continue com o ciclo da roubalheira, seja na Petrobrás ou na construção da BR-174, por exemplo. E, de político com mandato, as “vossas excelências” logo se tornam donos de negócios em todos os setores, de postos de gasolina e supermercados.

O que a Operação Lava Jato, com seus desdobramentos, está revelando é apenas uma ponta do que os maus políticos são capazes. E Collor de Melo apenas um deles, sacado do poder pelos “caras pintadas”, mas colocado de volta pelos caras que votam sem qualquer remorso por força do poder econômico e dos grandes esquemas da República.

Collor não foi reconduzido ao poder pelos ETs nem pelas conspirações norte-americanas ou por comunistas. Ele é produto nosso, cria dessa política que se tornou um bom negócio para corruptos e corruptores. Tal qual a ele, são centenas do Caburaí ao Chuí.

Ou já esquecemos que, em Roraima, em campanhas passadas, dinheiro era lançado da janela de carro na frente da viatura da Polícia Federal, mas ninguém foi punido? E quase a Justiça Eleitoral pede desculpa do político acusado. E assim, na terra de Makunaima, basta dizer que é “trazedor de recurso” que logo todos prestam reverência, enaltecem e tomam bênção. Então, Collor é apenas mais uma cria nossa...

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista
*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com

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