Novos convertidos

Jessé Souza*

Estamos em um momento crucial na política brasileira: corruptos que, de uma hora para outra, sentem-se iluminados por uma força superior falando em investigar corrupção ou fazer impeachment. É como se fosse uma igreja de uma religião qualquer, em que o recém-convertido passa a abominar, com sangue nos olhos, tudo aquilo que ele praticou por toda sua vida.

Todas as práticas corruptas que esses políticos se habituaram em suas carreiras, que conduziram a Nação a este caos, foram esquecidas por eles e apagadas da mente daqueles que dão crédito aos “novos convertidos”. É a política se tornando uma religião neopentecostal, a Igreja Nova Conversão dos Últimos Dias dos Esquecidos.

Nesta religião que estão pregando e arrebanhando adeptos, só os “convertidos” passam a ter a varinha mágica celestial de mudar o Brasil, desacreditando o papel do Judiciário, da Polícia Federal, do Ministério Público e do próprio Congresso Nacional como poder fiscalizador.

Esses “pastores da política” querem esfolar o demônio que eles apregoam, como se o partido que chega ao poder fosse o único responsável por governar sozinho, sem ajuda de outras siglas, sem coalizão com as grandes ratazanas deste país (leia-se o PMDB), grupo este que os “novos convertidos” deixaram de fazer parte em um milagre jamais visto.

No novo cenário de religião misturada com política, as instituições sérias deste país são espezinhadas. Nem uma eleição é levada a sério, como se política também pudesse ser um misto de religião (fé nos “convertidos”) e futebol (“vamos tirar o técnico e manter o mesmo time”).

Assim como toda falsa religião que explora a fé das pessoas, o demônio é culpado por tudo, não há salvação fora desse templo que eles montaram com muita pregação barulhenta, pirotecnia e nivelamento por baixo de todos os instrumentos que o Brasil está usando, por meio da polícia e da Justiça, para colocar os corruptos na cadeia.

Os agora “senhores novos convertidos”, como se não tivessem mais suas mãos lambuzadas pela lama da corrupção, da propina, de financiamentos imorais de campanha e dos mensalões e mensalinhos, se colocam como a salvação do Brasil, os únicos que irão pôr o país nos trilhos. E isso sem devolver um único centavo do que roubaram do povo e desviaram dos cofres públicos.

Afinal, como toda falsa religião, basta se converter e se passar de bom moço para logo ser aceito para falar em nome dos céus e enviar para o inferno todos que são apontados como demônios ou possuídos pelas ações do capiroto. Crente nesses imediatismos e pregações pirotécnicas, o brasileiro não sabe que está para cair em um novo golpe...

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Damurida com Xibé

Deputado federal na mira da Operação Arcanjo

Filha de magistrado é servidora do governo, mas mora em Goiânia