Panela de pressão

Jessé Souza*

Desde quando a violência em Roraima começou a se intensificar, a partir de fugas nos presídios e onda de assaltos, venho comentando sobre o risco do surgimento de grupo de extermínio, uma vez que, quando o Estado não cumpre com suas obrigações na segurança pública, surgem quem se arvore no poder de agir com as próprias mãos.

A Operação Bastilha, cujos réus começaram a ser julgados, é a prova concreta do início da organização do crime, com envolvimento de policiais e outros agentes do Estado. O grupo só não avançou mais porque as autoridades agiram rápido na investigação e na prisão dos envolvidos.

Porém, junto com as investigações não foi efetivada uma política de governo para combater as principais raízes da violência, fazendo com que só aumentasse a superlotação nos presídios, onde surgiram inclusive facções criminosas. Agiram nos efeitos sem atacar as causas.

Na outra ponta, vítima da insegurança e sem esperança de que os governos irão reverter esse quadro, além da incapacidade da polícia em estar efetivamente nas ruas, a população começou a reagir, agarrando e espancando ladrões flagrados em via pública.

Esse é um terreno fértil para que a sociedade apóie o surgimento de grupos de extermínios, uma vez que a própria população tem sentido o gosto de agir com as próprias mãos como forma de compensar a incompetência e a imobilidade dos governantes.

Não foi sem sentido que, no início do ano, surgiram corpos com sinais de execução encontrados tanto na Capital quando no interior, casos estes insolúveis até hoje.

Embora a Operação Bastilha tenha desarticulado um suposto grupo de extermínio, isso não significa que ações organizadas de criminosos deixaram de existir ou que já tenha cessado.

Todos os elementos para que ocorra a reação de grupos de extermínios estão bem presentes, como sistema prisional falido, policiais insatisfeitos, população reagindo contra ladrões e uma sociedade disposta a acreditar que matar bandidos é uma alternativa viável para conter a violência de forma imediata.

Em Manaus (AM), por exemplo, esses ingredientes estão presentes e foram levados ao extremo com a morte de um policial. Porém, não custa lembrar que, no meio dos mortos durante a chacina, além de elementos que tinham passagem pela polícia, havia cidadãos trabalhadores.

Esse é o risco do surgimento de grupo de extermínio: com a ausência do Estado, surge um poder paralelo que não apenas desafia os poderes constituídos, mas que também acaba executando pessoas inocentes. E onde surge um poder paralelo, outros crimes não demoram a associar-se.

Roraima tornou-se uma panela de pressão que está no fogo há um certo tempo. O crime organizado vem dando sinais nos presídios e fora deles. A população não hesita em apoiar justiça com as próprias mãos. E já sabemos onde isso poderá descambar. O alerta vem sendo dado há tempos.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Damurida com Xibé

Deputado federal na mira da Operação Arcanjo

Filha de magistrado é servidora do governo, mas mora em Goiânia