Pensamento selfie

Jessé Souza*


Não faz muito tempo, os programas policialescos criaram uma realidade televisiva, sugando as pessoas pela violência, ampliando e distorcendo fatos.  É verdade que a televisão traz, em si, uma contradição: na mesma medida em que alarma a sociedade, contribui para as pessoas tomarem suas precauções; porém, também serve para dar ideias a bandidos e, por outro lado adoece as pessoas, que passam a acreditar que nada tem mais jeito.

O mesmo vem ocorrendo com a internet, a partir da vivência cada vez maior das pessoas com as redes sociais. Com a cara enfiada no visor do celular, o cidadão passou a adotar uma vida paralela, absorvendo uma realidade ampliada ou distorcida, se alimentando de mentiras, factóides, violência, individualismo, negatividade e muitas armadilhas.

Com os fatos negativos ampliados, o individualismo (algumas vezes o narcisismo) e a pregação do “pós-modernismo”, as pessoas não acreditam mais em nada e querem ironizar todos que ainda creem no ser humano e nas boas práticas. E, assim, passam a defender “soluções” imediatas e sem reflexão para os problemas, como a violência, por meio da volta da Lei de Talião.

Assim como o que importa é o selfie do perfil e a “minha imagem”, sem se preocupar se outros estão “bem na foto”, as pessoas sugadas pelo “rebu da tecnologia”, que mistura e confunde tudo, não têm mais necessidade de refletir, de analisar os fatos e suas origens.

Vulneráveis e confusas, passam a concordar com toda opinião extremista e que não foca nas raízes dos problemas. Tudo passa a exigir imediatismo, da violência pela violência, do xingamento contra quem não concorda, do achincalhamento daqueles que estão sendo atacados só porque não concordam com a maioria do “rebu” das redes sociais do esfola-e-mata.

Até mesmo pessoas que outrora se mostravam conscientes e centradas nos valores e na legalidade passaram a não acreditar no ser humano nem naqueles que pensam diferente. O individualismo do “pensamento selfie” que adotou o pensamento imediatista atropela todo mundo. E, quando se mistura religião nesse emaranhado, a pessoa se torna um perfil molotov nas redes sociais.

É um comportamento nocivo, que tem ganhado adeptos graças à ignorância intelectual, ao individualismo e à desinformação. A ignorância não pode vencer essa batalha, pois o Brasil já conheceu os porões escuros e sabemos no que isso pode dar. Quem não se contaminou precisa entender que, apesar da falta de vergonha de quem faz questão de impor sua ignorância intelectual, existem aqueles que não perderam a esperança nas pessoas e na crença de uma sociedade livre e democrática.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista
*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com

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