Quanto pior...

Jessé Souza*

Há anos que venho comentando sobre uma ação orquestrada, por parte de alguns segmentos partidários, de fazer com que Roraima fique dependente da política do “quanto pior, melhor”; ou seja, quanto pior para o povo de Roraima, melhor para os políticos que lucram com isso politicamente ou até financeiramente.

Uma estrada largada ao descaso, cheias de buracos e sem qualquer manutenção, por exemplo, pode significar atraso no desenvolvimento do Estado, prejuízos para transportadores, produtores que precisam escoar seus produtos, empresas de ônibus e para a população que paga impostos altíssimos.

Porém, essa mesma estrada tomada pela buraqueira pode representar dividendos para políticos sem escrúpulos, que enxergam nela uma forma de conseguir recursos, seja por meio de emendas parlamentares ou convênios federais, verbas essas que chegam “carimbadas” para esta ou aquela empresa, a qual precisa pagar “porcentagens” como forma de garantir o serviço.

Os exemplos são bem mais amplos. Manter antigos problemas estruturais do Estado de Roraima significa manter essa política do “quanto pior, melhor”, que sempre alimentou de esquemas entre empreiteiras que financiam políticos, os quais precisam lucrar com isso, raspando até o osso, o que impõe que sobre muito pouco para investir verdadeiramente na ponta, na qualidade das obras ou serviços.

A falta de uma matriz energética para o Estado é consequência dessa atrofia política que tem a intenção de manter a população refém de projetos falaciosos anunciadosa cada pleito eleitoral e da insegurança, para que os mesmos políticos surjam como se fossem os únicos capazes de resolver os problemas que eles mesmos criam e fazem de tudo para mantê-los.

Enquanto o Estado sofre com a insegurança energética, estradas intrafegáveis, irregularidades fundiárias, inexistência de projetos de desenvolvimento e outros problemas crônicos, nunca iremos conseguir sair da dependência dos mesmos políticos que acumulam mais poder, sem interesse em resolver nossas grandes questões.

Roraima vive de paliativos porque não interessa que experimentemos o desenvolvimento. Sair do buraco, conseguir independência fora da economia do contracheque, significaria o fim dos coronéis que mantém o Estado no cabresto e o eleitor no curral.

A questão fundiária é o grande espelho da questão. Enquanto os produtores e famílias agricultoras lutam para conseguir regularizar suas propriedades, o que poderia dar um salto em seus negócios, muitos políticos correram para usurpar as terras produtivas, não ligando para regularizar o que poderia significar o início de uma nova realidade para todos. É assim que sempre funcionou o “quanto pior, melhor”.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com

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