Sinal vermelho


Jessé Souza*


É preciso muita atenção ao que o governo quer fazer com a Educação Indígena em Roraima, setor que é exemplo para o restante do país não apenas pelo avanço educacional aos povos indígenas, mas na forma de gerir uma educação diferenciada, respeitando as línguas tradicionais, formando professores indígenas e os colocando em sala de aula.
O Estado de Roraima tem grande parte de seu território geográfico ocupado por terras indígenas, onde vivem milhares de populações de várias etnias. E somente a educação pública diferenciada e de qualidade é que vai permitir que esses povos saiam da condição de dependentes das políticas públicas para que consigam tomar conta de seu próprio destino.
Somente a educação indígena conseguirá formar profissionais comprometidos com a vida das comunidades, respeitando suas culturas sem que isso represente um isolamento ou renúncia das tecnologias cada vez mais presentes na vida de todos, índios e não índios. 
Os principais passos foram dados com uma Divisão de Educação Indígena gerida pelos próprios professores indígenas, que cobram uma política diferenciada e brigam por melhorias com conhecimento de causa, porque eles não só trabalham nas escolas indígenas, como vieram de lá, moram na comunidade e conhecem esse universo diferenciado que envolve cultura milenar e o contato com a sociedade envolvente.
Tirar a Educação Indígena do Plano Estadual de Educação não se trata tão somente de um golpe aos avanços conquistados pela educação indígena, mas também é ferir de morte uma política dos índios contribuindo na construção de uma nova realidade para Roraima e atores que ajudam no desenvolvimento do Estado.
Infelizmente, ainda sobrevive na política local a visão de que o índio representa um empecilho ou uma forma fácil de conquistar votos a cada eleição. Ou de que os índios não têm competência para administrar e gerir uma Divisão onde a educação indígena é levada a sério, como instrumento de transformação.
A Universidade Federal de Roraima (UFRR) tem feito um trabalho histórico de proporcionar aos índios uma formação superior diferenciada por meio do Insikiran. O próprio Estado é exemplo de formação a professores índios por meio do Magistério Indígena Tamikan. 
Mas parece que pessoas desplugadas da realidade, que não querem ver as populações indígenas gerindo seu próprio destino por meio da Educação, estão empenhadas em destruir tudo aquilo que foi construído com muita luta e empenho não só por professores indígenas, mas por educadores não índios que sabem o valor de uma educação diferenciada e essencialmente indígena. Como não conseguiram tomar as suas terras, agora parecem que querem roubar a educação dos indígenas...

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista
*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com


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