Tudo errado

Jessé Souza*

O que está ocorrendo com os boa-vistenses, submetidos a uma onda de violência, não é um problema apenas do governo. Ela é resultado da imobilidade de toda a sociedade organizada, de todos os poderes que deixaram de agir por longos anos, dos fiscais aos executores de políticas públicas.

Embora possamos apontar para este ou aquele governante, a raiz de tudo está no âmago de nossa sociedade, que se acomodou na venda de votos, em entrar na fila da cesta básica e em pedir favores governamentais, sem se preocupar em fazer cobranças e escolher melhor seus representantes.

O problema também está nos governantes, que nada ou pouco fizeram para evitar que os problemas chegassem a este nível. Também está nos parlamentares, que nada fiscalizaram e que cumprem seus mandatos apenas agindo em benefício próprio ou de seus grupos, se reelegendo usando as armas de sempre: compra de voto e mentiras espetaculares de promessas de desenvolvimento que nunca chega.

A culpa está nos órgãos fiscalizadores, que ficam nesse joguete por anos, fingindo que estão agindo, emitindo uma recomendação aqui e acolá, impondo multas que nem fazem cócegas no bolso dos corruptos ou simplesmente fazendo vistas grossas ou engavetando as maracutaias por meio de interesses inconfessáveis e impublicáveis.

Tem ainda a lentidão ou a leniência da Justiça, com seus braços longos que não conseguem abraçar aqueles que estão bem perto e que mereceriam ser punidos severamente por não agirem como administradores ou por estarem praticando ilícitos com o bem público.

Enfim, enquanto toda a sociedade estava ocupada com seus interesses particulares ou de suas panelinhas, a pobreza avançava, os presídios superlotavam, as polícias sucateavam, as crianças ficavam fora das creches porque não tem vaga e as escolas se tornavam desinteressantes para que os alunos não trocassem sala de aula por sala de lan house ou pela esquina das drogas.

Agora estamos na situação de remendar lençol velho com pedaço de pano novo. Ou de tentar se proteger do frio da madrugada com lençol curto. Quem paga o pato é a população, que fica refém dos bandidos. E as polícias ficam correndo atrás dos bandidos, já que não conseguem estar em todos os lugares ao mesmo tempo - porque onipresente só Deus com seus mistérios divinos de Pai, Filho e Espírito Santo - ou “enxugando gelo”.

A solução não está em apenas reformar ou construir novos presídios, ou dar mais carro para as polícias. É preciso um trabalho coletivo, amplo, de faxina moral na sociedade a desratização do poder público; de ações políticas a vergonha na cara dos políticos e outras autoridades que não fizeram e continuam não fazendo nada. É preciso recomeçar, reconstruir, replanejar e fazer tudo de forma correta, da família à escola, do poder público aos governantes. Porque, senão, é rezar e pediu a Deus para não ser a próxima vítima dos bandidos.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 

*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com

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