Além da casa

Jessé Souza*

Os programas habitacionais do governo deveriam ter uma dimensão maior para poder beneficiar, de fato, quem necessita das casas, pois geralmente estas pessoas não conseguem se habilitar nos financiamentos por problemas na documentação ou por estarem negativadas nos órgãos de defesa do consumidor.

Sendo assim, seria necessário que os programas habitacionais viessem precedidos de atendimento a estas pessoas desde a inscrição, para que pudessem ser orientadas sobre documentação e reabilitação de crédito. Como isto não ocorre, aqueles mais necessitados ficam impedidos de conseguirem a casa própria.

Depois que as pessoas fossem beneficiadas com as unidades habitacionais, os programas sociais deveriam prosseguir junto a estes conjuntos habitacionais para que a dignidade de ter uma moradia seja ampliada com acompanhamento à infância, a pessoas desempregadas, violência doméstica e famílias desestruturadas.

Como inexiste isso, muitos não vão muito longe e são assediadas para que vendam suas casas por quem quer especular ou por aqueles que querem aproveitar da situação dos mais pobres. Neste caso, várias famílias de baixa renda acabam vendendo suas casas para conseguir dinheiro para sobreviver.

Abrindo os classificados no jornal e na internet, é possível ver gente vendendo ou alugando casas financiadas pelo governo. Das duas uma: ou essas pessoas ganharam casa apenas para especular, pois não precisam, ou famílias em dificuldade financeira estão negociando aquilo que foi conquistado a duras penas, o que reforça a necessidade de um acompanhamento destas pessoas.

Além disso, a implantação de programas sociais efetivos e cursos de capacitação profissional ou formação de mão de obra, nos conjuntos habitacionais de baixa renda, iriam proporcionar uma vida mais digna a estas famílias, evitando também que a violência seja outro problema sério na vida destas pessoas.

Da forma que está, os que conseguem realizar o sonho da casa própria logo estarão enfrentando a dura realidade da ausência de estrutura básica para sobreviver na nova realidade, como falta de transporte público, atendimento à saúde precário ou inexistente, desemprego e violência por ausência da polícia e de programas reinserção social.

O que se vê é a ausência do poder público logo depois que a casa é entregue ao beneficiado, principalmente naqueles bairros mais afastados, onde as dificuldades passam a ser maiores. E se não houver este acompanhamento por parte do poder público, problemas mais sérios irão surgir. Então, seria o momento de os políticos planejarem algo mais além do que apenas o programa habitacional.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 

*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com
http://roraimadefato.com/main/


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