Humildade e covardia

Jessé Souza*

As piadas sempre representaram uma forma disfarçada de externar preconceitos, racismo e outros comportamentos considerados reprováveis pelo conjunto da sociedade. Para defender os que tentam usar esse tipo de atitude, em tempo em que se luta contra o bullying e o preconceito ou racismo, alguns argumentam que saíram ilesos das “brincadeiras” do passado, que incluíam apelidos depreciativos e piadas racistas ou preconceituosas.

Embora, particularmente, eu tenha conseguido sair desse “corredor polonês” que são o bullying e as chacotas, não foi fácil, pois é preciso ter muita autoestima e uma base familiar e educacional forte que permita a pessoa olhar sempre por cima, além de muita perspicácia para saber argumentar ou simplesmente ignorar, calar-se, porque os detratores muitas vezes querem apenas uma reação para impingir apelidos ou marcar com o ferrão da estigmatização.

Os detratores sempre querem confundir as pessoas, notadamente as mais fracas, pois eles fazem questão de embaralhar a realidade para que suas vítimas e sua plateia não consigam compreender a diferença de humildade e covardia, de ser educado e defesa da autoestima.

Quem não consegue compreender que humildade não significa covardia vira alvo e vítima. Quem não consegue distinguir uma “brincadeira de mau gosto” de um ataque preconceituoso gratuito, para que possa agir com sabedoria a fim de repeli-lo, seja de forma inteligente, mas ríspida ou um pedido de respeito, acaba deixando o campo aberto para ser espezinhado.

Um fato é você deixar que sua turma e seus iguais o tratem na brincadeira dentro dos limites aceitos. Outro fato é alguém que se sinta superior e aja capciosamente para se impor de maneira truculenta ou com piadas mal-intencionadas a fim de tentar diminuir ou destratar seu interlocutor.  

As piadas precisam, sim, ter limites. Pois nem todos estão aptos a absorver ou reagir com inteligência, pois é preciso sapiência, coisa que só se aprende vivendo, errando e aprendendo. Não é gratuito que se vê muita pessoa sequelada por aí pronta para explodir.

Nos Estados Unidos, onde arma e munição se compram na frutaria da esquina, os sequelados psicologicamente entram no cinema e nas escolas para atirar em todos que eles encontrarem pela frente. Lá, as autoridades até começaram uma discussão para se limitar a venda de armas, enquanto no Brasil os extremistas querem liberar a venda.

É necessário acabar com a fachada de que vivemos em uma “democracia racial”. O combate ao preconceito e racismo se faz por meio da educação, na família, e na transmissão de conhecimento, na escola, e por meio da inclusão social. E combater não significa ir para a guerra, e sim fazer as pessoas enxergarem a realidade, para que o cidadão não se torne um opressor nem se deixe vitimizar, deixando bem claro o que é humildade e o que é covardia, o que é brincadeira e o que é má intenção para oprimir.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com

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