Os donos de Roraima


Já está passando da hora de as pessoas pararem de achar que são donas de Roraima, como se o Estado fosse uma propriedade particular, em que as pessoas se arvoram donas da História, dos cofres públicos, da cultura e de tudo aquilo que faz parte do patrimônio público e coletivo.

Muitos ainda agem como se fôssemos aquelas imensas fazendas de gado reais, deixadas pela Coroa portuguesa, as quais os colonizadores foram se apropriando, sentido-se donos do que ficou devoluto, por desinteresse do governo central, que nada via de importante por aqui.

Não somos mais esse quintal ou esse reduto que pôs a maioria dos bens nas mãos de poucos, o que fez esses alguns se arvorarem proprietários até do ar que respiramos. É preciso pensar coletivamente, com todos fazendo parte desta terra, cada um dando sua contribuição, seja nativos, quem adotou este Estado para morar ou aqueles que estão chegando.

E cada um respeitando seus espaços, suas culturas e seus valores, cada um dando sua contribuição para um Estado e aceitando as condições das diversas culturas, a exemplo dos indígenas, dos nordestinos, dos gaúchos e de tantos outros que já estão por aqui e dos que ainda vão chegar.

Esse resquício de antigos coronéis de fazenda precisa acabar. Não podemos mais pensar em desenvolver esta terra achando que ela pertence a um grupo, a uma família, a um ou vários donos isolados e loteados. E isso vale também para a política, pois quando um grupo assume o governo acha que passou a ser proprietário de tudo e de todos.

Esse pensamento tacanho contribui para que as portas fiquem fechadas para a maioria e abertas para poucos, estes que acabam aceitando fazer o joguete dos neocoronéis e de todos aqueles que acreditam ter a chave da “antiga fazenda”, apadrinhados a serem convidados para a Casa Grande.

A disputa baseada no antigo coronelato e dos padrinhos que abonavam seus afiliados é uma das barreiras que contribui para que não consigamos avançar e dar um passo definitivo para sairmos dessa cultura de achar que é dono de tudo.

A visão tapada acaba servindo para que políticos sem escrúpulos mandem e desmandem, tratem as pessoas como se fossem apenas joguetes e se apoderem daquilo que deveria ser coletivo ou que poderia estar beneficiando a sociedade em geral.

Não se pode mais conceber que existam “donos de Roraima”. Alguns passos para mudar esse quadro já foram dados, ainda que lentos, porém é preciso mais para que o Estado saia dessa condição de refém daqueles que tomam conta dos cofres e da caneta que toma as decisões. Ou, senão, iremos sofrer por longas décadas até que consigamos enxergar que não se pode mais viver entre a Senzala e a Casa Grande.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 

*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com

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