Antigos monstros


Seria perfeitamente aceitável uma pessoa qualquer, na década de 80, no período pós 2ª Guerra Mundial e no auge da Guerra Fria, subir em cima da mesa e bradar com todas as forças de seus pulmões contra o comunismo, o socialismo e coisas afins. Afinal, o mundo naquele momento fazia todo o sentido.

O comunismo morreu com a queda do Muro de Berlim (no que pese a existência de uns resquícios na China, Cuba e Coreia do Norte, este o mais radical de todos), a viagem do homem à lua não é mais um assombro, a Guerra Fria foi derrotada por acordos comerciais e a internet, que servia para ações secretas, hoje está no celular de qualquer curumin.

Porém, algumas cabeças ainda não conseguiram assimilar o turbilhão de transformações que foram processadas depois da década de 70, com a efervescência dos anos 80 e a velocidade dos anos 90 até chegar à aldeia global dos anos 2000.

Essas pessoas falam de comunismo como se estivessem no auge da Guerra Fria, quando a ideologia capitalista dos Estados Unidos se confrontava a ferro e afogo com a ideologia comunista da União Soviética. Como pastores pregando o fim do mundo, seus discursos afiados como navalhas de barbeiro aposentado pregam a aterrorizante volta do comunismo ao Brasil.

Há uma lacuna muito grande nesse pensamento que parece ter sido congelado no tempo. No mundo capitalista, onde não existem barreiras para os senhores do dinheiro, é inconcebível que um regime comunista seja implantado em qualquer parte do Planeta, muito menos no Brasil.

Os senhores da guerra e do dinheiro também não autorizam a queda de qualquer presidente ou a instalação de ditadura sem que eles possam avalizar se será bom ou ruim para os seus negócios. A elite golpista brasileira, de Getúlio Vargas a Jânio Quadros, por exemplo, só conseguiu seus intentos porque recebeu sinal verba dos donos do mundo.

A propósito, esse discurso de que o comunismo vai tomar o Brasil foi um dos argumentos utilizados para os militares tomarem o poder, na década de 60, com promessa de que iriam devolver o país à democracia logo em seguida. Um embuste. Então, esse argumento é tão antigo quanto posição de ler um livro. Mas ninguém quer ler mais.

Não se pode mais conceber os mesmos monstros do passado como discurso para amedrontar pessoas largadas à desinformação e a uma educação precária, em que o medo da Terceira Guerra Mundial foi trocado pelo medo da guerra em busca do emprego e pela sobrevivência.

Discurso pregando volta de comunismo só funciona contra os desvalidos intelectualmente, os quais sempre foram colocados na linha de frente do campo da batalha, para morrer, enquanto os senhores das finanças traçam seus planos pelo poder e pelo dinheiro. Vamos pensar, gente!

*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com

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