Arrocha na multa!


Nos últimos dias, o Estado colocou todo o seu aparato para arrochar os condutores de veículos irregulares. As blitze diárias podem até passar uma sensação de que as autoridades estão mesmo interessadas em organizar o trânsito. Mas não é bem assim. Organizar o trânsito não significa sitiar as vias públicas para multar e apreender.

Blitz é importante para fazer com que os condutores passem a andar dentro da lei, cumprindo com suas obrigações. Mas essa ação é (ou deveria ser) apenas parte do processo, pois até agora tem servido apenas para aplacar a fome arrecadadora do Estado, que não tem mais dinheiro sequer para pagar o salário dos servidores em dia.

Organizar o trânsito significa sair do ar-condicionado dos gabinetes e da cabine dos carros, gastando gasolina na cidade. É preciso ocupar a cidade com agentes de trânsito monitorando semáforos e faixas de pedestres, orientando condutores, ciclistas e pedestres em cruzamentos ou outros pontos de grande movimento.

Pôr o trânsito em ordem significa suar a camisa, ir para sol e o asfalto, estar presente onde os condutores e pedestres estão, conversar com as pessoas, punir, mas também orientar. Vai mais além do que cercar a zona Oeste e pedir documentos. É preciso estar junto com a cidade, e não apenas como figura repressora.

Fazer o trânsito funcionar significa as autoridades cumprirem também com sua parte na sinalização, na engenharia e no conserto das vias públicas. Afinal, os altos impostos e taxas que os donos de veículos pagam servem para que os órgãos de trânsito dêem o retorno em obras e serviços necessários para a boa convivência no trânsito.

Da forma que está, as autoridades estão jogando toda a responsabilidade e culpa para a população, sem querer dar sua contrapartida. Primeiro multa como principal política. E não quer ajeitar antes o que está quebrado, o que não funciona, o que está largado. Arrocha o contribuinte, mas não quer conversar com ele para orientar e alertar.

É necessário que mexa no bolso daqueles que não obedecem à lei, mas também é essencial um trabalho pedagógico e orientativo fluindo junto. Mas quem está disposto a fazer isso, já que requer trabalho dobrado e suar a camisa na rua?

Então, dá-lhe muita, dá-lhe blitz, pois, afinal, neste país do Petrolão, o povo já está acostumado a ser arrochado para pagar os rombos que os maus políticos e os corruptos praticam nos governos. E ninguém fiscaliza para onde está indo o dinheiro que pagamos com taxas e impostos altíssimos para os órgãos de trânsito...

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com

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