Caixotes de cimento


Alunos e professores da Escola Estadual Carlos Drummond de Andrade, no bairro Pricumã, na zona Oeste, bem que tentaram salvar o igarapé Pricumã, por meio de campanhas educativas envolvendo alunos da comunidade, mas não conseguiram.

Porém, a Prefeitura de Boa Vista, sob a alegação de que iria preservá-lo, tacou-lhe cimento em seu leito, ou seja, fez a canalização sob a alegação de que isso iria preservar o manancial. Hoje, o igarapé Pricumã virou um imenso canal de cimento, sem vida, sem mata ciliar e, se não houver a tubulação, irá virar esgoto a céu aberto.

O mesmofoi feito com o igarapé Mirandinha. Sem interesse em investir para recuperar o que estava degradado, as autoridades municipais enterraram o manancial, o sepultando em túmulos de cimento, que nada mais é do que a maldita canalização.

Outros igarapés morreram por falta de interesse das autoridades e órgãos ambientais em preservá-los, a exemplo do Caxangá, Grande, Tiririca e Mecejana. A desculpa são o avanço das cidades e a chegada do desenvolvimento, como se desenvolver significasse matar igarapé e destruir completamente o meio ambiente.

Enquanto os países desenvolvidos estão empenhados e investindo alto para recuperar os rios que estavam praticamente mortos, no Brasil, onde ainda há tempo de salvar muitos mananciais, a exemplo de Roraima, o poder público fecha os olhos e engana que está fazendo algo.

Quem vai a Manaus pode perceber com clareza no que podemos nos tornar, em curto espaço de tempo, se providências sérias não forem tomadas o quanto antes. Lá, os igarapés em áreas urbanas se transformaram em baixadas cortadas por esgotos e ocupadas por favelas.

Muitos dizem que isto pode ser inevitável pelo próprio crescimento, pela inoperância do poder público e pela falta de educação ambiental da sociedade. Porém, não faz muito tempo, um astronauta veio por aqui apresentar um projeto que iria transformar Roraima em um Estado ecológico, exemplo para o mundo.

Isso significa dois fatos: ou o astronauta estava mentindo, pregando algo impossível; ou ele apresentou um projeto que pode ser realidade, que pode se concretizar, caso haja interesse dos governantes e da sociedade local em efetivá-lo, independente de quem o apresente.

Então, é preciso que a questão ambiental seja levada a sério, pois as mudanças climáticas e o crescimento populacional urgem por planejamento, já, para que não sejamos penalizados no futuro. Ou achamos bonito as autoridades mentirem que estão salvando igarapés ao enterrarem seus leitos em caixotes de cimento? Ou estamos dizendo para as nossas crianças que não vale a pena se mobilizar para salvar nossos igarapés, a exemplo do igarapé Pricumã?

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P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com
Acesse: www.roraimadefato.com/main

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