Projeto político




Não faz muito tempo, o governo local realizou uma solenidade para anunciar a chegada da banda larga em Roraima. Foi semelhante a como se fosse uma vila isolada qualquer comemorando a chegada da energia elétrica. Como já tivemos autoridades que foram festejar a inauguração da escada rolante no Aeroporto Internacional de Boa Vista, fazer festa para internet até foi justificável.

Mas já tivemos outras festas feitas para fazer parecer que estava chegando o sonhado desenvolvimento, a exemplo da conclusão do asfaltamento da BR-174, da interligação da energia de Guri e a conclusão da ponte que liga o Brasil à Guiana. Mas, afinal, por que esse desenvolvimento nunca chega?

No início da década de 90, os políticos tinham boca doce para dizer que Roraima era “terra de oportunidades”, muito embora até agora só se comprovou que é “terra de oportunistas”. As coisas não avançam. A BR-174 não foi a redenção, a energia de Guri teve o prazo vencido e a internet é uma porcaria. Dia desses, até a escada rolante inaugurada no aeroporto não estava funcionando.

Como o desenvolvimento não chega, continuamos dependendo do governo, da chamada “economia do contracheque”, e vivemos submetidos ao humor do governante do momento e dos grupos políticos que se digladiam pelo poder.

Basta o governo atrasar o salário dos servidores por alguns dias (ainda que dentro do prazo legal) para todos ficarem em pânico. Isso significa que ainda vamos penar muito para sairmos da dependência dos governos, porque a energia elétrica que temos, vinda da Venezuela, não consegue suprir indústrias, nossa agricultura é praticamente de subsistência (até a farinha vem de Rondônia) e o mercado local não consegue competir com os comércios da Guiana, Venezuela e Manaus (AM).

Tudo isso, e por mais outros fatores, não conseguimos sair do lugar quando se fala em desenvolvimento, embora a chegada de dois shoppings e de novas franquias nos dê um fôlego para pensar que já avançamos. Mas patinamos na falta de estrutura e de incentivos, na desorganização de um Estado falido.

Porém, nada disso é obra do acaso. Tudo está assim, esculhambado e sem perspectiva, porque são os políticos que querem nos manter isolados, dependentes, sem mercado de trabalho e sem desenvolvimento, inclusive com internet ruim para sequer consigamos nos informar.

Roraima manda para Brasília um dos mais influentes políticos da República, mas que não mostra interesse em resolver os principais problemas do Estado, a não ser agir a conta-gotas quando as decisões também o beneficiam de alguma forma. Tudo porque, reféns dessa política, somos presas fáceis a cada campanha eleitoral. E assim vamos vivendo a cada festa para inaugurar algo anunciado como mais uma maravilha do desenvolvimento.  Esses entraves não são erros e incompetência, e sim um projeto político.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com

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