Régua do mundo


Jessé Souza*

Recentemente, conheci um cubano que está de passagem por Roraima tentando chegar aos Estados Unidos. Ele só fala nisso. Acha que vai conseguir atravessar a fronteira de forma ilegal, se estabelecer, ganhar um “Green Card” ("Cartão de Residência Permanente nos Estados Unidos", um visto permanente de imigração concedido pelas autoridades daquele país) e ganhar muito dinheiro.

Ele não consegue enxergar que, por onde passa, está sendo ajudado e encontra pessoas que acreditam na boa-fé e no sonho dele. E o ajudam, inclusive oferecendo trabalho para ele juntar dinheiro. Ao achar que a felicidade está apenas nos EUA, não consegue perceber que poderia se estabelecer em qualquer país da América Latina, recomeçar a vida e encontrar a felicidade.

Já estive nos Estados em 2004 fazendo um intercâmbio cultural e profissional. Eu tinha ajuda de custo da Embaixada norte-americana para me manter, me locomover e me hospedar. Então, não tive que batalhar nada, a não ser aproveitar a oportunidade. E estava mesmo aproveitando tudo, mas sempre pensando em voltar logo para recomeçar a minha realidade a partir do que vivenciei por lá.

Porém, vejo que equivocadamente muitos adotam um discurso extremista e derrotista com relação ao Brasil. Para essa gente, tudo no Brasil não presta, é ruim, é pior, é desprezível. Para justificar o derrotismo ao extremo, citam a América do Norte como o grande exemplo, a redenção, a supremacia como a régua do mundo. Não consigo conceber isso.

Talvez, esse tipo de brasileiro devesse fazer como o cubano e cair na estrada rumo aos EUA, para conhecer a realidade e enfrentar o que realmente é aquele país para quem não nasceu lá e para ver como os imigrantes são tratados. E voltaria amando mais o Brasil, sua cultura, a liberdade de ser o que quiser, no que pesem as coisas ruins que temos. Sim, a corrupção assola o país, mas isso não quer dizer que estamos no caos completo.

Esse derrotismo de colocar o Brasil sempre pra baixo, sempre atrasado, sempre ruim para se viver não pode vencer nem contaminar aqueles que sonham com um país melhor. Nós temos um país maravilhoso. Apenas temos que ajeitá-lo. E isso não se faz em 10 ou 20 anos. É uma batalha de geração, que temos de cultivar a partir de nossos filhos.

Espero que aquele cubano pegue seu Green Card e encontre a felicidade almejada. Mas bom mesmo, para mim, é o Brasil, que conseguiu sair do buraco de uma ditadura e está conseguindo construir sua democracia. O derrotismo é bom para os fascistas e extremistas, que querem pegar o que temos de ruim para que se torne regra.

Não somos isso. Somos um país que tem seus desafios a serem superados por meio da democracia. A nossa felicidade está aqui e devemos lutar por ela, sem achar que a prosperidade só brota nos EUA ou no quintal dos outros.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista
Acesse: www.roraimadefato.com/main

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Damurida com Xibé

Deputado federal na mira da Operação Arcanjo

Filha de magistrado é servidora do governo, mas mora em Goiânia