TWD do lavrado

Jessé Souza*

The Walking Dead, ou simplesmente TWD,  é um seriado norte-americano que também ficou famoso no Brasil. O enredo é muito fácil de ser entendido: a transformação da vida na Terra após um apocalipse zumbi, em que boa parte da humanidade foi infectada por um vírus misterioso que os transforma em mortos-vivos.

Tirando as cenas de terror que mostram sangue e decapitações, o filme nos remete a uma profunda reflexão sobre o que seríamos caso perdêssemos tudo que hoje está em nossa volta: família, lar, bens materiais, vaidade, sobrevivência....

Como o mundo passou a ser dos zumbis, as pessoas que ainda restam passam a ser apenas sobreviventes desta nova terra. Na luta pela sobrevivência, em que um pedaço de chocolate ou tomar banho passam a ser algo extraordinário, começamos a refletir sobre nossas vidas e no que nos tornaríamos, caso não tivéssemos mais nada do que possuímos hoje.

Então, me veio uma reflexão sobre no que os maus políticos de Roraima nos transformaram para que passássemos a agir hoje em relação à política e a nossa sociedade como um todo. Contaminados por esta forma de fazer política, passamos a ser zumbis, mortos-vivos que vagam sem sentido.

Conseguiram arrancar de boa parte de nossa sociedade qualquer possibilidade de racionar e agir como cidadãos plenos. Despossuídos de pensamento crítico e submetidos ao assistencialismo ou ao apadrinhamento, o ápice dessa submissão é a campanha eleitoral, a cada dois anos, quando as pessoas se tornam zumbis em busca de qualquer favor.

Já foi pior, é verdade, quando os “zumbis eleitorais” caminhavam na madrugada em busca de uma “boca de urna”, quando Boa Vista se tornava uma “cidade dos mortos-vivos”. Com o avanço da legislação eleitoral, a zumbilândia deixou de ser escancarada, mas isto não significa que que o eleitor passou a ser mais consciente. A compra de votos apenas deixou de ser descarada, escancarada.

O caminho dos mortos-vivos segue outro ritmo, com o comércio eleitoral se tornando mais enrustido ou melhor elaborado. A zumbilândia segue elegendo e reelegendo as mesmas figuras deste filme TWD do lavrado. O eleitor caminha sem consciência, mutilado em sua dignidade, mas sem sentir dor porque ele não pensa mais, perdeu sua dignidade e sua autonomia em agir.

Assim como no seriado The Walking Deade, não se sabe se haverá cura para o grande mal. Enquanto isso, zumbis e sobreviventes disputam em desigualdade os espaços do mundo arrasado – com grande vantagens para a legião de zumbis, que podem transformar os sobreviventes em mortos-vivos a qualquer momento...

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista
Acesse: www.roraimadefato.com/main

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