Vendem-se bênçãos


É difícil ficar acreditando em um país no qual a briga de um casal de artistas vira notícia séria no maior programa dominical da TV. Enquanto a crise de um casal famoso é tratada com destaque, a verdadeira crise brasileira fica longe das discussões sérias, a não ser quando o fato serve para beneficiar as elites do país que sempre quiseram tomar o poder pelo golpe.

Mas, pensando bem, a mesma matéria que tratou da fofoca do casal em crise Chimbinha e Joelma trouxe um pouco de luz sobre outro fato sério que vem ocorrendo no Brasil, se aproveitando de todas as demais crises brasileiras: a crise da moral, a crise financeira, a crise da educação e a crise na saúde pública.

Esse fato trata-se da religião como comércio e as igrejas como uma empresa como qualquer outra, a qual traz a fé como mercadoria principal. No caso da dupla da banda paraense, Chimbinha relatou na entrevista que sua ex-esposa estava sendo influenciada por uma “guru espiritual”. Na verdade, essa “guru” nada mais é do que uma nova invenção das igrejas neopentecostais que serve para alienar mais as pessoas e entrar na vida particular dos fiéis: o orientador espiritual.

Esse orientador nada mais é do que alguém da igreja com poderes de induzir as pessoas a não se desviarem dos propósitos da religião, ou seja, comércio da fé. As igrejas vendem a fé e ainda disponibilizam um “gerente” de pós-venda, o qual tem o papel de dizer o que o fiel deve fazer na sua vida pessoal.

Sendo assim, completa-se todo o ciclo do comércio, com a oferta da mercadoria, a fé, e a necessidade do cliente, a prosperidade, a melhoria de vida, a cura, o amparo espiritual. Como as pessoas querem receber o que elas compraram, então as igrejas fazem de tudo para que seus clientes passem a acreditar que estão sendo atendidos.

Com o crescimento desse tipo de igreja, as pessoas optam por buscar a compra dos “benefícios vindos dos céus” a lutar por seus direitos como cidadãos em busca de uma saúde de qualidade, do bem-estar social, de uma educação que as façam progredir por forças dos céus.

São essas pessoas submetidas às alienações do comércio das igrejas que ficam aptas a se submeterem à alienação política, a crerem em soluções imediatistas que beiram ao fascismo. As TVs estão cheias de programações que fisgam os desvalidos que acham que seu dinheiro de trabalhador explorado pode mesmo conquistar as bênçãos prometidas pelos pastores inescrupulosos.

Ninguém sabe para onde o Brasil vai caminhar. A crise atinge a todos, menos o comércio das igrejas oportunistas, que aproveitam o momento conturbando pelo qual passam as pessoas para vender a fé. E como tem gente comprando e querendo receber...

P.S.: Publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com

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