Ações do bicho-homem


Jessé Souza*

A cada passeio que faço nas águas do Rio Branco, aumenta a preocupação com as ações irresponsáveis do “bicho-homem” com relação a preservar nosso principal manancial de água potável. Em certos trechos da imensa praia que se forma entre a Orla Taumanan e a Ponte dos Macuxi, é possível notar, além da grande quantidade do lixo, pontos escuros na areia que indicam acúmulo de poluição, seja por esgoto ou óleo de embarcações.

Na margem habitada, o acúmulo de lixo não se restringe a embalagens, garrafas ou plásticos, como se vê nas praias. Lá também estão carcaças de ventilador e geladeira lançados pela irresponsabilidade humana, uma vez que, apesar de alguns problemas, nós temos um serviço de limpeza que funciona dentro da normalidade. Não é extraordinário, mas também não é precário.

A conclusão que se pode ter disso é que não se trata apenas da necessidade de ter um serviço planejado para recolher o lixo que flutua na água ou que está acumulado nas praias, margens e matas ciliares. Muito desses lixos e entulhos é lançado para os rios ou suas margens por ação das chuvas.

Explicando melhor: o lixo lançado em via pública ou em áreas desabitadas nos bairros localizados ao longo do trajeto do Rio Branco, e seus afluentes, acaba sendo arrastado para os cursos d'água. Tudo que os moradores lançam nas ruas ou o que não é acomodado direito na lixeira é levado pelas enxurradas para o rio.

Então, é necessário um trabalho mais amplo e planejado direcionado aos bairros que são circundados pelo Rio Branco, seus afluentes e igarapés que deságuam neles, os chamados tributários. Isso significa que todo o cuidado e empenho que o banhista tem em recolher da praia e levar seu lixo embora não é suficiente. Nem as campanhas que visam recolher lixo e entulho dos rios.

Da mesma forma que as autoridades precisam combater o lançamento de esgotos domésticos clandestinos ou da rede de esgoto nos igarapés, também é necessário que se preocupem com o lixo urbano lançado em via pública ou nas áreas desabitadas nas proximidades dos rios. Se não for assim, isso somado à consciência dos cidadãos, jamais conseguiremos manter o Rio Branco sadio, fonte de água potável, de lazer e de renda para muitas pessoas.

Os sinais do avanço das agressões vêm sendo emitidos há muito tempo. Quem está habituado a ir ao Rio Branco sabe que é necessário reforçar o sinal de alerta de forma constante e urgente. As tragédias ambientais e as severas secas que castigam o Brasil estão aí para reforçar a necessidade de Roraima estar vigilante não apenas com o seu principal rio, mas com todos os seus mananciais, bem como o meio ambiente de forma geral. O tempo urge.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista
Acesse: www.roraimadefato.com/main

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