Fotografia 3x4

Jessé Souza*

Parece difícil de compreender o que se passa no Estado de Roraima. Porém, é difícil apenas para aqueles que acabaram de chegar ou que estão de passagem. Pois quem mora aqui conhece muito bem como esta terra foi tratada desde os tempos de Território Federal, quando os políticos se eximiram de assumir as responsabilidades de encarar os problemas que vinham surgindo.

Tudo o que existe de obras grandiosas e que resistem ao tempo foi feito em um passado já um pouco distante. A Penitenciária Agrícola de Monte Cristo e a Cadeia Pública de Boa Vista, por exemplo, foram erguidas quando a maioria de nós, que nascemos na década de 70, ainda era criança ou chegando à adolescência.

De lá para cá, não houve mais investimentos no sistema prisional na mesma medida em que o Estado foi crescendo. Então, é óbvio que os presídios definharam, superlotaram e se tornaram um grande problema a ser resolvido. Como ninguém encarou o problema, as coisas vão sendo feitas no remendo. E a consequência podemos ver nas constantes fugas na Penitenciária, raiz de mais problema: a criminalidade.

O mesmo ocorre com o Instituto de Medicinal Legal (IML), cujo prédio foi construído quando minha geração ainda sequer havia saído do antigo ginasial ou, como era chamado, do Primeiro do Grau. De lá para cá, nada foi feito de investimento, a não ser promessas e projetos sempre engavetados. Resultado: corpos apodrecendo ao ar livre aos fundos do IML.

E os bandidos aterrorizando o cidadão? Consequência de uma polícia que vem sendo sucateada desde o tempo de Território, com remendos aqui e acolá, com efetivo defasado, equipamentos ultrapassados e prédios caindo aos pedaços. Se bobear, os bandidos estão se organizando mais rápido do que as cúpulas de nossas polícias. Afinal, quando um marginal qualquer é preso, ele diz logo que é de uma facção criminosa.

No trânsito a lógica é a mesma: largado ao descaso e à politicalha, o Estado não avançou nada em planejamento e estrutura neste setor. Exemplo? Com 20 anos de atraso, Boa Vista está instalando semáforos como se fosse algo inédito e eficaz. Ou seja, saímos da idade da pedra lascada e ainda estamos na idade das trevas.

Outro exemplo: o único viaduto em área urbana foi construído por um político que já morreu e que não deixou herdeiros políticos, Ottomar Pinto (o que ele deixou de herança foi um sucessor que se mostrou o “governo cupim”, que ajudou a destruir o que já vinha ruim). E a única passarela que existia foi demolida porque a ferrugem “comeu”.

Então, como podemos ver, não foi nenhum ET que esculhambou nosso Estado nem um tornado ou avalanche que destruiu a estrutura. Foram a corrupção, a incompetência política e o desleixo administrativo. E com ajuda de quem? Do povo, que vende seu voto a cada eleição. Esse é o retrato de Roraima...

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista
Acesse: www.roraimadefato.com/main

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