Resumo de como estamos

Jessé Souza*

Muda o governo, mas a desesperança não. O cenário de segunda-feira foi absolutamente preocupante para quem mora em Roraima: enquanto um policial com uma arma e um colete a prova de bala da corporação executava covardemente três pessoas a tiros e tentou matar outra, mais presos fugiam da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo.

Quem achava que o dia já teria sido de muita violência e que bastava para um início  de semana, três elementos atacavam um policial em frente a uma movimentada faculdade particular, na área nobre de Boa Vista, a poucos metros de um dos shoppings. Horas depois, já na madrugada de terça-feira, um casal de moto foi literalmente estraçalhado em uma colisão frontal com um caminhão, no trecho sul da BR-174.

Significa que a segunda-feira foi o retrato fiel do que Roraima se transformou: insegurança, violência e desesperança, com policiais se confundindo com bandidos, enquanto os bandidos sem farda aterrorizam a cidade, não poupando sequer policiais, e fugindo da prisão; além de uma guerrilha que vem sendo travada no trânsito.

Nada disso é novo. Os governos têm mudado, mas os problemas só avançam. Quando eram “apenas” bandidos fugindo da cadeia para cometer crimes contra o cidadão, ainda havia um fio de esperança que isso pudesse ser revestido. Mas, quando os policiais bandidos começaram a agir, restou uma realidade obscura, de medo e muita apreensão.

Afinal, em quem confiar, agora, se um bandido de farda, tresloucado, inconsequente e armado pode ser o algoz de qualquer um, ao menor olhar ou gesto de reprovação de um cidadão qualquer que já se sente oprimido pela crise, pela violência urbana, pelo trânsito caótico ou pela imobilidade dos governantes?

É preciso mais que discurso, muito mais que seminários ou decisões que não dão em nada. É necessário repensar tudo, agir rápido, punir policiais bandidos, acabar com um corporativismo insano e tratar os doentes, dar condições aos que honram a farda e sua família; cuidar realmente dos presídios, acossar a bandidagem e reforçar a segurança pública. É preciso mais, sempre muito mais, ficar vigilantes com apoio de órgãos fiscalizadores e executores.

Precisamos de um mutirão não apenas de paz, de levantar bandeira branca, mas de uma faxina moral e criminal nas instituições policiais, para que acabem com a sensação de impunidade dos que usam arma em nome da lei. Arrumar a casa é essencial para que possa agir também contra a bandidagem de uma forma geral, principalmente contra aquela que faz do presídio uma colônia de férias. Mas quem está disposto a isso? Quem vai agir? Perguntar é o que sempre restou ao cidadão, além da violência urbana e, agora, a violência policial contra as famílias...

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista
Acesse: www.roraimadefato.com/main

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