Turbinas do rincão


Chegamos a uma encruzilhada depois de longo trajeto de enganação política a que o povo de Roraima foi submetido com relação à questão energética. Quem pertence à minha geração vem sendo ludibriado desde a adolescência com projetos que não passaram de muito gogó e demagogia para enganar eleitor em tempo de eleição.

Um dos grandes engodos foi a chamada Hidrelétrica de Cotingo, que permeou os discursos dos políticos por longo anos, mesmo eles sabendo que esta obra seria difícil de ser negociada por envolver a intricada questão indígena. Ainda assim, foi usada nos discursos para enganar a opinião pública.

O tempo passou e a energia de Guri chegou com o discurso de redenção, mesmo que os políticos também soubessem que o linhão vindo da Venezuela teria prazo de validade, o que restou comprovado, agora. Nesse meio tempo, as autoridades cruzaram os braços, porque, para muitos, não interessa Roraima se desenvolver e sair do buraco, pois os problemas que a população enfrenta são usados para conquistar votos e manter o eleitor na dependência da politicalha.

Sem projetos e muito menos sem interesse em resolver a questão, o Estado ficou sem uma matriz energética confiável, sobrevivendo aos sustos constantes de depender da Venezuela e aterrorizado com a possibilidade de voltar a ser abastecido, outra vez, por termelétricas que consomem muito diesel e poluem o meio ambiente.

Não custa lembrar que, no tempo de Território Federal, esses geradores termelétricos serviram muito bem para interesses escusos. Quando autoridades enroladas não queriam que a população assistisse a alguma denúncia na TV, mandavam desligar as turbinas ou mesmo sabotar o sistema de distribuição. Quantas vezes ficamos na metade do jornal ou na metade do jogo da Seleção? Muitas, inúmeras vezes...

Hoje o interesse é outro: deixar Roraima sem uma energia confiável significa manter o roraimense na política do “quanto pior, melhor”, para que eles, os maus políticos, continuem mantendo o povo no cabresto. Porque, sem energia de qualidade, as indústrias não chegarão e, sendo assim, haverá sempre um discurso na ponta da língua para que os políticos se apresentem como “salvadores da pátria”.

E assim fomos tratados na base de engodos e imobilidade política, sem empenho e sem pressa para que Roraima deixasse de ser esse rincão distante de tudo e submisso aos coronéis da política locais, os quais mantêm, na desgraça do povo, a forma de se manterem no bem-bom do poder e de aumentarem suas riquezas de forma ilícita.

P.S. Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista
*Jornalista

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