Do humor ao Pânico



Há uma corrente de opinião incutindo na mente das pessoas que o “politicamente correto” estaria acabando com o humor. Obviamente que isto não procede, pois o esculacho nunca poderia ser considerado humor, principalmente na TV. O humor é inteligência e, se não for com inteligência, com certeza é algo mal intencionado.

No Brasil da falsa democracia racial, o humor foi usado para incutir ainda mais o preconceito e o racismo, e isso sem se preocupar em disfarçar. Havia um tempo em que até o alvo do ataque era obrigado a rir para não ser mais ofendido ainda. E o politicamente correto veio para pôr fim ao medo e á vergonha de reagir ao racismo, ao bullying, ao preconceito, o machismo, à homofobia e a qualquer tipo de agressão contra o diferente.

Não, não significa limitar ou censurar o humor. Trata-se de refletir sobre tudo aquilo que a sociedade não pode aceitar como normal, como o preconceito de gênero e o desrespeito, comuns em programas de TVs como o Pânico, que apelam para tudo aquilo que foi citado acima, além de assédios moral e sexual.

O politicamente correto não limita nem censura o humor baseado na inteligência. O exemplo a ser citado é um programa antigo e que passa até hoje na TV, o mexicano Chaves. Neste programa, o gordo, o pobre, o feio, o sem-pai, a sem-mãe, o idoso e outros diferentes são tratados por meio de um humor inteligente, sem apelações, sem agressões (ainda que seu Madruga leve tapas da Dona Florinda).

O humor inteligente trata a diferença sem agressões e sem apelar para o preconceito ou o racismo. Ao contrário do Pânico, que humilha anão, negros, gordos, feios e apela para o estereótipo da mulher seminua, tipo “boazuda”, “mulher farta”, e que necessariamente precisa se parecer burra.

Não precisamos tripudiar e humilhar os outros para arrancar sorrisos. Podemos, sim, brincar com os nossos iguais dentro do contexto familiar, de grupos fechados ou de pessoas que se conhecem e se respeitam, mas que sabem os limites de cada um. Mas sem levar isso a público, sem fazer com que uma brincadeira possa ser usada como preconceito, racismo ou uma forma de se parecer superior.

O que o programa Pânico faz nada mais é do que alimentar o bullying, que deixa muitas pessoas sequeladas (esse é outro tema), sem disfarçar o racismo, o preconceito, o assédio e a homofobia. Brincar com nossos defeitos e diferenças é uma coisa; tripudiar com a finalidade de diminuir o outro é que o politicamente correto combate.

O humor jamais deve ser usado para disfarçar aquilo que tem de pior no ser humano: a necessidade doentia de muitos de segregar, marcar, reduzir, eliminar ou se parecer superior a tudo e a todos.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista

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