Exemplo de Sampa


Resta esperança, no Brasil, quando estudantes saem às ruas para protestar por um ensino de qualidade. O exemplo que parte de São Paulo mostra que a juventude pode ser a força, a resistência que precisamos para avançar mais alguns degraus pela moralização do país. Também revela a truculência dos maus políticos que usam a polícia para fazer o que de melhor ela sabe: reprimir.

Em Roraima, não faz muito tempo, estudantes que foram para o Plenário da Assembleia Legislativa do Estado foram chamados de “macacos de auditório” e ainda ameaçados pela direção da escola de serem punidos pelo fato de terem ido cobrar uma escola de qualidade.

Na década de 1980, os estudantes foram definitivos para a mobilização em favor da democracia em um momento turbulento, que foi a transição da ditadura para a democracia. Foram eles que mostraram que ser estudante e jovem significava ter responsabilidade na política, engajamento por causas coletivas.

No passado, havia motivos para estar engajado, para lutar por uma causa, por esquecer interesses pessoais em favor de um objetivo maior, pelo bairro, pela cidade, pelo Estado, pelo País.

De lá para cá, com o individualismo, guindado pelo “pós-modernismo” e pelo consumismo que anula o cidadão, a contestação cessou. Sobretudo porque essa juventude passou a ser filhos marcados pela ausência dos pais que saem cedo de casa para trabalhar e voltam tarde da noite; ou de mães solteiras; ou de famílias desestruturada por tudo isso e ainda pela violência doméstica.

Porém, com as mobilizações vindas de São Paulo, a juventude deu sinal de que sente necessidade de ir às ruas para não permitir que o poder termine por esmagar a educação e tire do brasileiro o que ainda resta de esperanças.

Estudantes de todo o país precisam ficar atentos ao que está acontecendo por lá. Tornam-se necessários um novo despertar e a tomada de consciência de que a juventude também é responsável por cobrar uma sociedade menos injusta e que dê condições para uma educação de qualidade, que é a base para o futuro de cada cidadão brasileiro.

Os estudantes precisam entender que, quando jovens, muitos dos pais de hoje renunciaram alguns projetos pessoais para lutar pela democracia e para que o Brasil não continuasse mergulhado na escuridão da podre política e sufocado pela botas dos militares. E o sonho não pode morrer nas mãos do individualismo, da falsa meritocracia que só beneficia quem não precisa trabalhar desde cedo e ainda ganha um carro no final do ano só para estudar (em escolas particulares).

Em Roraima, estudantes foram às ruas para cobrar, se uniram a professores grevistas, deixaram a sala de aula para pressionar deputados. Então, ainda restam esperanças de que o jovem desperte para o seu papel de contestador, de inconformado, de crítico e de engajado por uma sociedade melhor. Que São Paulo ajude a reforçar os ânimos de quem achava que estava tudo perdido...

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista

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