Ironia e ganância


É no mínimo de tom irônico o apelo que um empresário fez, aos boa-vistenses, para que não compre no hipermercado recém-instalado na Capital. Por anos, o consumidor roraimense vem sendo espezinhado não apenas pela falta de concorrência, mas também pelo completo desprezo de empresários que enxergam no mercado local uma forma apenas de aumentar seus patrimônios.

Nesse ramo de supermercados, as redes sociais estão apinhadas de denúncias de pessoas que foram humilhadas ao comprarem produtos visivelmente estragados ou com prazo de validade vencido. As recentes operações feitas pela Promotoria de Defesa do Consumidor com a Delegacia de Defesa do Consumidor mostram o tamanho não somente da falta de respeito, mas de crimes cometidos contra o povo.

Depois vem a ganância, em que boa parte dos empresários não repassa os benefícios conquistados por meio da Área de Livre Comércio de Boa Vista ou simplesmente pratica um preço extorsivo, tudo em um conluio que pode até não ser feito de forma combinada, porém consentida em um acordo tácito escorado pela falta de concorrência.

Cabe ressaltar que nem todos os empresários agem desta forma, pois há uma parcela que luta pela sobrevivência e cresce junto com o Estado. Mas existem os que fazem jogo sujo junto com a politacalha e estão aqui apenas sugando a economia em troca de alguma contrapartida, explorando mão de obra, o consumidor e os cofres públicos.

Por longas décadas o consumidor roraimense não tinha como escapar da ganância que parecia não ter fim, sendo obrigado a recorrer ao comércio fronteiriço da Guiana ou da Venezuela se quisesse algum benefício de zona de livre comércio. Ou até mesmo Manaus, aonde alguns produtos chegam a custar até 50% mais baratos.

Quem teve a oportunidade de ir até Fortaleza sabe do que estou querendo afirmar, pois muitas roupas vendidas aqui são compradas lá ou em outros estados a preços de atacados bem mais em conta e chegam aqui a valores estratosféricos, bem acima do que é justo, incluindo impostos, fretes e outros custos mais.

No ramo de supermercado, ficamos nas mãos de promoções pífias, que pareciam ser revezadas semanalmente pelas grandes empresas que ditavam preços e mantinham o consumidor na ditadura de promoções anunciadas em panfletos distribuídos em semáforos.

Com a chegada do hipermercado, o consumidor passou a perceber o tamanho do desrespeito e da exploração a que era submetido. Ficou escancarado o tamanho da ganância de empresários que mandavam e desmandavam em Boa Vista.

Em vez de ficarem se passando por vítimas, o mínimo que estes empresários deveriam fazer é começar a agir de maneira leal e justa. Já seria um bom começo. E não ficarem achando que, por aqui, somos todos tolos, como acreditam os políticos corruptos que sugam esse Estado há décadas.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 

*Jornalista

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