Do lixo ao Japão


Ao recolher as toneladas de lixo das águas do Rio Branco, nosso principal manancial de água potável, que corta o Estado de Norte a Sul, a Companhia de Água e Esgoto de Roraima (Caer) tem feito um trabalho que, no popular, chama-se “enxugar gelo”. Afinal, está comprovado que o cidadão não quer ser conscientizado na questão do lixo que ele produz.

Então, a única saída é investir pesado na conscientização das crianças, uma vez que será difícil a maioria dos adultos mudar de atitude. Se os pais estão falhando na educação dos filhos, torna-se necessário o poder público assumir esse papel de conscientizador, por meio de programas direcionados ao público infantil, e mesmo de educador, por meio da escola, embora não seja esse o papel da escola, que é transmitir conhecimento.

Não há outra forma de encarar o problema senão pela escola. No Japão, por exemplo, as crianças são obrigadas desde cedo a cuidar do lixo na escola, varrendo a sala de aula e lavando copos, pratos e talheres usados na merenda. Mas isso é Japão. Lá, a mão da criança não cai se elas varrerem a sala. Pelo contrário: faz parte do processo de ensino e aprendizagem.

Aqui, no Brasil, vira caso de polícia e indignação popular se um aluno tiver que limpar o que ele sujou na escola. Afinal, criou-se uma concepção de que lixo é problema dos governos, não nosso, de cidadão, desde pequeno.

Paralelo a esse árduo trabalho de conscientização e educação, enquanto uma nova geração não for formada, é preciso atacar o problema em sua fonte. A maior parte do lixo que vai para o Rio Branco não é somente o que é lançado nas praias ou direto nas águas, pelos banhistas irresponsáveis, sem qualquer compromisso com o meio ambiente e ignorantes completos no que diz respeito à cidadania.

O lixo vem dos bairros por onde o curso da água passa, pois o que é lançado em via pública acaba sendo arrastado pelas águas das chuvas ou mesmo pelo vento, no caso do plástico, direito para os rios e igarapés. Então, a atuação de limpeza deve ocorrer em todas as áreas próximas dos rios e igarapés.

Isso significa que, se não for feita uma intervenção no lixo lançado nesses bairros, o problema não vai reduzir ou cessar. E se a criança não for trabalhada desde cedo, ela vai reproduzir o que seus pais e outros familiares adultos fazem, não dando destinação correta ao lixo doméstico ou mesmo ao que é produzido no dia a dia, nos passeios ou momentos de lazer.

O fato é que o problema não é fácil de ser resolvido, pois estamos falando de Brasil, da esculhambação geral da nação. Logo, se não houver um esforço da sociedade para encarar o problema, estaremos decretando o fim de nossos principais mananciais de água potável. São Paulo que o diga.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com

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