Tetas, penduricalhos e choros




Os novos tempos exigem mudança de comportamento dos administradores públicos que sempre viveram de remendar pano velho com pedaços de pano novo. Com a crise política e econômica que se abate sobre o Brasil, não dá mais para os políticos agirem com antigas práticas, achando que vão surfar nos banzeiros da vida boa de antes.

As tetas dos cofres públicos não suportam mais as bocas famintas nem as farras homéricas. Ou as autoridades renunciam às mazelas e à boa vida, ou iremos afundar ainda mais (traduzindo: ou o povo irá pagar muito mais caro por isso). O Brasil está quebrado e o Estado de Roraima não consegue viver de seus próprios recursos – como já sabemos de cor e salteado.

Chegamos à encruzilhada e, agora, os governantes são obrigados a enxugar a máquina de verdade, sem as enganações de sempre, quando se demitia de um lado e se contratava de outro, colocando os indicados da política do toma-lá-dá-cá, os apaniguados, os agregados e os parentes.

A crise requer compromisso com a administração pública e exige decisões austeras, remédios amargos, mas necessários para que a população não sofra além do que é salgado e doloroso para o seu lombo. Senão, o buraco vai se aprofundando e alargando ainda mais, a ponto de chegar um dia em que sequer haverá recursos para pagar o funcionalismo, que é quem faz a máquina funcionar e quem faz o dinheiro da chamada economia do contracheque girar.

Há secretarias que servem apenas de penduricalho, abrigando seres que só aparecem no Diário Oficial em pagamento de diárias ou férias. Existem estatais pesadas, verdadeiros dinossauros fossilizados que há tempos já deveriam ter virado peças de museu. Há órgãos que não funcionam porque não são necessários ou porque, ainda que servissem, não há gente interessada em fazer a máquina andar.

São inúmeras as possibilidades de apertar o cinto para que haja contenções necessárias a fim de sanear as contas. Porém, como já se tornou hábito da politicalha, inexiste vontade política para resolver os problemas ou porque resolvê-los significaria mexer nos esquemas montados para alimentar seus grupos e aliados.

Logo, o futuro do Estado nunca esteve tão ameaçado quanto agora. E os políticos nunca estiveram tão explícitos ao monitoramento público quanto na atualidade. E também tão em descrédito quanto o momento de Lava Jato. Os ingredientes da política estão em ebulição e as decisões tomadas a partir de agora é que definirão os caminhos para as próximas campanhas eleitorais.

Só existe uma certeza nisso: o povo não está contente e vai cobrar por mudanças concretas, a partir desta crise nacional. E crise existe para ser superada com esforço e criatividade, e não para ser reclamada. Porque, até agora, só se escuta o choro das autoridades. E de choro o povo está de saco cheio.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista

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