A indústria do prejuízo


Xilogravura de Fio  Urban Caos  (Google)

Vamos enfrentar mais um ano eleitoral e, com ele, ressurgem as forças das invasões a propriedades particulares e áreas públicas. Depois da indústria corrupção, que deixa uma parte da elite endinheirada de forma ilícita, a indústria da invasão gera dividendos financeiros a profissionais invasores e votos para políticos que prometem regularização fundiária.

O cenário sempre é o mesmo, com os repetidos profissionais atuando nos bastidores ou às claras, sob o manto do discurso de “casa própria para sem-tetos” e “necessidade de regularização fundiária urbana”. Paralelo a isso, há os espertalhões que se infiltram nesses movimentos apenas para aplicar golpes.

Porém, acima de tudo isso, estão as autoridades municipais, com destaque aos vereadores e principalmente a Prefeitura de Boa Vista. Os vereadores, todos já sabemos, parados como postes ou coniventes com a situação e uns poucos dando apoio a invasores, ainda que de forma indireta. A Prefeitura, por sua vez, fazendo vistas grossas e, pior, impondo uma burocracia para dificultar que as empresas imobiliárias regularizem loteamentos.

Conforme denunciou a Folha, na semana passada, o entrave para a liberação de loteamentos urbanos é um dos fatores que impede que famílias de poucas posses consigam comprar lotes urbanos de forma legal e parcelada, podendo desta forma terem acesso ao sonho da casa própria dentro de suas condições financeiras.

Como Boa Vista tornou-se o paraíso das invasões, muitas famílias acabam caindo nos vários golpes fundiários, alguns morrendo sem conseguir ter o documento do imóvel que comprou ou do terreno que ocupou de alguma forma, ainda que doado pelo poder público. Outros perdendo toda a economia de uma vida, tendo que recomeçar de novo ou mesmo passando a viver em um litígio judicial interminável.

Os prejuízos para Boa Vista são inúmeros, inclusive políticos, pois a indústria da invasão permite que candidatos sem propostas e sem escrúpulos continuem fomentando as repetidas práticas, os quais têm nas famílias pobre e nos espertalhões seu combustível para alcançar um mandato ou se manter nele.

É necessário que a sociedade boa-vistense tome consciência de quão nefasto são esses movimentos que usam sem-tetos e sem-terras como massa de manobra. Somente com o fim dessa indústria e com a regularização fundiária urbana é que Boa Vista conseguirá dar mais um passo ao seu desenvolvimento.

Enquanto isso não ocorrer, os espertalhões da política e da especulação imobiliária vão continuar levando vantagens, com Boa Vista e sua população ficando com os problemas decorrentes das invasões e da instabilidade que o problema provoca.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista

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