Cenário do horror



Fomos subir a Serra de Pacaraima no fim de semana. Talvez não tenha sido uma boa escolha pelo momento das queimadas. Eu e a minha companheira de vida e aventuras, Ellen Lima, fomos bem recebidos na comunidade do Bananal, por onde há a trilha para alcançar o todo da serra que dá nome ao município na fronteira com a Venezuela, na fronteira com a Venezuela, Norte do Estado, e que também faz parte da letra do Hino de Roraima.

Embora o momento não fosse oportuno, pudemos ter a noção exata do que o fogo é capaz de fazer com a natureza. O cenário de devastação nos acompanhou até bem perto do cume. Era uma trilha de cinzas, toco de árvores que viraram carvão, o marrom de tom triste da vegetação estorricada e muita fumaça vindo de queimadas por toda a região.

Não havia como não cansar o pulmão com tanta fumaça, cinza e fuligem. Faltando alguns metros para chegarmos ao topo, o pulmão não suportou e o corpo pediu arrego, primeiro o da minha companheira e, logo em seguida, alguns elevações depois, o meu. Onde parássemos, cenário era de horror, como se estivéssemos dentro de um filme de Apocalipse.

É muito triste saber que somos impotentes perante uma situação dessa, já que sequer o poder público consegue lidar com essa realidade visivelmente fora de controle, ficando tão somente a pedir consciência e tentando contornar alguns incêndios para que não avancem ainda mais.

Além das tragédias normalmente provocadas pelo fogo, tem ainda o turismo que é afetado duramente, pois fica praticamente inviável os guias turísticos das comunidades indígenas levarem as pessoas para apreciar as belezas naturais, uma vez que o fogo tem devastado praticamente toda a região.

Assim como as autoridades largam os índios apenas no discurso, quando se trata de investir no etnoturismo, também inexiste uma política para que eles possam lidar com a prevenção e o combate ao fogo, principalmente em áreas de mata e serra, onde um fogo qualquer deixa um rastro de destruição inenarrável.

Ao subir a Serra de Pacaraima, era como se estivéssemos fazendo um passeio de horror, caminhando por uma trilha que parecia nos conduzir ao inferno. Como expectadores da tragédia, nada podemos fazer a não ser lamentar, já que nem as autoridades estão conseguindo vencer essa batalha anual.

Como tudo é feito sem um planejamento de governo, dificilmente esse quadro será revertido. Afinal, enquanto os órgãos lutam para não deixar faltar água e alimento para as pessoas e animais, fica com a natureza o difícil papel de se regenerar a cada ciclo. O problema que nem tudo volta ao normal. Lamentavelmente, o preço será muito caro para o futuro. E essa conta quem vai pagar somos nós mesmos.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 

*Jornalista

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