Chamas da mesmice



As questões das queimadas em Roraima não passam de uma cena repetida a cada verão rigoroso. Embora tenhamos enfrentado o maior desastre ecológico em 1988, quando o Estado todo ardeu em chamas, chamando a atenção de todo o mundo, nada mudou em termos de política de governo. Continuamos sempre correndo atrás do prejuízo e de recursos federais decretando situação de emergência.

De concreto mesmo para agir preventivamente, chamando pequenos e grandes produtores à responsabilidade, antes mesmo de a estiagem chegar, nada temos. As ações sequer começam quando as primeiras fumaças surgem na área urbana, chamando a atenção das pessoas quando passam nas rodovias federais cujas margens ficam tomadas pelo fogo.

A verdade é que, do inverno ao verão, não existe uma política de governo definitiva, fazendo com que um grupo possa trabalhar de forma efetiva em ações a fim de se antecipar ao que anualmente enfrentamos no que diz respeito às chuvas e à estiagem. É como se estivéssemos fadados a sofrer todas as intempéries da natureza ao sabor de um castigo divino.

O que o Estado está passando hoje nada mais é do que essa falta de gestão de caráter definitivo, em que as políticas de governo não existem, e sim decisões de cada grupo que chega ao poder, fazendo com que os agentes públicos continuem na mesmice da falta do que fazer.

Em questão de monitoramente sabemos que o Brasil se preparou muito bem para apontar focos de calor, mapear lugares onde o fogo castiga e onde as chuvas podem ser mais avassaladoras. Porém, as tragédias anunciadas continuam porque as informações existem, mas as ações preventivas permanecem um desafio para o país da desorganização.

O Estado de Roraima já deveria ser exemplo, há quase uma década e meia, em se tratando de prevenção e combate a queimadas, uma vez que já sabemos o tamanho de uma tragédia ambiental provocada pelo fogo e das necessidades para realizar ações. Porém, não conseguimos sequer dar conta de incêndios a prédios em área urbana, como já vimos em outras oportunidades.

Mas somos apenas um arremedo, um Estado que só sabe pedir ajuda federal para realizar obras sem licitação e socorro de bombeiros de outros estados, ou até mesmo de outros países, como ocorreu em 1998. E não é por falta de profissionais competentes, pois já provamos que eles existem por aqui.

O que falta ao Estado são governos e governantes com vontade e competência para planejar aquilo que já sabemos que vai acontecer a cada ano. E não precisa ser gênio nem ter bola de cristal. O fogo que avança sobre Roraima é a prova dessa incompetência crônica que acomete os políticos sem compromisso com as grandes questões desse Estado.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 

*Jornalista

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