Harmonia e caos

Obra de Luiz Zerbini

Os moradores da Capital não têm nenhuma dúvida da competência da atual administração municipal para embelezar a cidade com flores e jardins. Nossos canteiros centrais estão aí, como cartão-postal e como prova disso. De jardineiros estamos muito bem servidos, obrigado! Mas, e a Saúde, a Educação e o Trânsito? E todos os demais setores?

Na área de saúde, os postos médicos municipais eram para começar a funcionar 24 horas a partir do dia 1º de fevereiro. Seria! Porque quem acreditou na propaganda acabou enfrentando uma perambulação até mesmo para uma simples vacinação de uma criança, então imagine os demais serviços mais complexos.

Na área da educação, pais que acreditaram na propaganda do atendimento eficiente via “Call Center”, nome “abonitado” para “Central de Atendimento por telefone”, tiveram que amargar decepção na volta às aulas porque não conseguiram vaga para seus filhos. E isso é apenas um exemplo diante de outros problemas.

No trânsito, a prefeitura acha que a implantação de meia dúzia de semáforos com dez anos de atraso é digna de publicidade, aplausos e reverências. Não é! Nem a compra de dois radares móveis que nunca são usados para multar também não significa muita coisa diante do caos que vem se desenhando há muito tempo.

Como só temos vereadores dizendo “amém” e felizes com suas diárias e cursos feitos sabe-se-lá-onde, então já sabemos que não podemos esperar mudanças substanciais nos setores mais urgentes. Sequer o Orçamento municipal para 2016 foi discutido, pois a peça orçamentária chegou à Câmara tão somente para ser ungida e abençoada pelos vereadores, que parecem extasiados com o “tom de harmonia” entre Executivo e Legislativo.

A verdade é que Boa Vista está muito bonita visualmente, mas não resiste à vida diária dos boa-vistenses no trânsito, nos postos de saúde e nas escolas. E ainda não sabemos o que será de nós se um inverno rigoroso decidir cair depois desses dois anos de castigo do El Niño. 

O jardim está bonito e água não falta para regrar nossas belezas, sob sol e chuva. Mas a população precisa de muito mais que isso, diante dos problemas no transporte urbano, na regularização fundiária, na falta de investimento para enfrentar o caos no trânsito e competência para que os postos de saúde deixem de ser essa penúria que empurra as pessoas para entupir os hospitais que deveriam estar somente atendendo os casos mais graves e urgentes.

E mais unidades de educação infantil para evitar que as crianças já cresçam sem amparo desde o berço. Tudo o que for feito para a infância ainda será muito pouco. Só iremos ter uma sociedade melhor quando nossa infância estiver bem protegida. E ela não está. Por isso, menos estética e cosméticos; e mais investimento nos setores essenciais.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 

*Jornalista

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