Cara de pau e Óvnis

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Jessé Souza*

O que impressiona nos discursos de moralidade que vêm sendo feitos nas redes sociais é o descaramento de achar que os casos de corrupção foram inaugurados recentemente na História do Brasil. É como se ninguém tivesse culpa nesse cartório eleitoral e os políticos corruptos de tempos passados não existissem ou foram eleitos por ETs que visitam a Terra a cada dois anos e que foram às urnas no lugar dos terráqueos brasileiros.

Esta semana, começou a circular um vídeo do falecido Enéas (aquele do bordão “Meu nome é Enéas”), no qual ele fala exatamente do que iria acontecer no Brasil. Pela sua fala exaltada, ele era tratado como um doido qualquer, um ser excêntrico que estava na política apenas para fazer graça no Horário Eleitoral Gratuito. E por isso votaram nele, não por seus posicionamentos.

Também começou a circular outro vídeo de uma entrevista com o deputado federal Tiririca, no qual ele fala dos esquemas das emendas parlamentares. Esse vídeo é reverenciado como se fosse a prova cabal da corrupção no Brasil, como se ninguém antes sabia disso.

Menos, por favor. Ou é muita hipocrisia, ou cara de pau, ou desinformação. Sabe-se desde Cabral que essa corrupção endêmica grassa no Brasil, alimentada por uma casta de sociedade corrupta que manteve o povo no cabresto e no curral, desde os tempos dos coronéis até os dias atuais, com os neocoronéis, a exemplo da família Sarney, no Nordeste, ou corruptos mais requintados, como Maluf, em São Paulo.

Não é preciso fazer muito esforço mental para apontar os corruptos históricos do Pará ao Amazonas, do Maranhão a Alagoas, de Mato Grosso a Minas Gerais, de São Paulo a Rio Grande do Sul. E o que dizer de Roraima que envia para Brasília alguns corruptos que sempre estão dando apoio aos seguidos governos, inclusive como lideranças?

Então, esse sentimento de moralidade e civismo que está pipocando nas ruas, em todo o Brasil, deveria servir para que o cidadão também refletisse sobre os seus atos como cidadão e sobre os votos que vêm sendo depositados nas urnas a cada pleito. Não são os Óvnis que vêm colocando os corruptos em Brasília, nos municípios e estados.

A corrupção não é uma invenção nova ou de outro mundo e tudo isso que está vindo à tona é uma prática antiga no Brasil, mas que vem sendo ignorada por órgãos fiscalizadores, toleradas pelo Judiciário e permitidas pela maior parte da população, que vem vendendo seu voto ou trocando sua consciência política por favores ou conveniências.

A bandalheira é geral e antiga. Muitas vezes, pela hipocrisia ou pelo descaramento mesmo, as pessoas preferem achar que quem vai resolver isso é uma pessoa, ou uma instituição ou alguma mágica qualquer. Isso é fugir da responsabilidade e transferir culpas. Não tem mágica para o Brasil ou “intervenção constitucional”. A solução para o país é um eleitor consciente e não corruptível - e menos cara de pau.


P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 

*Jornalista

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