Da fila ao voto

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Na fila do restaurante do shopping, no domingo passado, um cidadão, na hora de confirmar o seu pedido e pagar a conta, tentava convencer o atendente a dar um jeito para que seu prato saísse primeiro, na frente dos demais pedidos. Logo atrás, ouvi a resposta do caixa: “Não dá porque aqui é pelo número no painel”.

Esse é o comportamento típico do brasileiro, que vai às ruas exigir o fim da corrupção e clamando por ética, mas não quer cumprir com as regras básicas da sociedade, que é aguardar sua vez na fila do atendimento, seja no banco ou numa praça de alimentação do shopping.

Seria extraordinário que esse movimento de ir para as ruas realmente fosse um choque de moralidade no Brasil, de baixo para cima. Mas, pelo que se vê no dia a dia, tudo é pura ilusão, pois o descaramento neste país da esperteza é tanta que as pessoas acreditam que a ética e as leis têm de ser cumprida somente lá em cima, e não aqui na base da pirâmide social.

Antes desse episódio de domingo, na lotérica, um advogado aproximou-se para puxar conversa. Eu achava que se tratava apenas de um bate-papo, mas era tão somente mais uma esperteza, pois ele se aproveitou da ocasião para furar a fila, como se eu o tivesse autorizado. A surpresa foi tanta a ponto de eu ficar sem ação para reagir mediante a tamanha cara de pau de um conhecido.

E assim vamos levando essa Nação, na base do jeitinho, da hipocrisia e da esculhambação, achando que a corrupção está somente nos políticos, em Brasília. Ou crendo piamente na grande mídia, que manipula a opinião pública para que acredite que os corruptos se resumem apenas a uma parcela dos políticos, livrando os demais que fazem o jogo do poder político e da mídia.

Não haverá faxina ética e moral se o cidadão não começar a agir de forma correta em sua vida na sociedade, seja numa fila ou na hora de escolher seus representantes. Não adianta cobrar o fim da bandalheira e continuar votando nos mesmos corruptos que mantêm a sujeira na política local e em nível nacional.

É preciso que o cidadão adote a política partidária com responsabilidade, passando a cobrar critérios na hora de escolher seus representantes, principalmente observando se a pessoa tem ficha limpa. Se assim não for, a esculhambação continuará a mesma: o cidadão furando fila, porque acha que isso é “sem importância” para a cidadania, e votando nos mesmos corruptos, seja por vender o voto, em troca de favores ou porque acha que, no Brasil, o “rouba, mas faz” é aceitável.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 

*Jornalista

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