Do Beiral ao pacto

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A ocupação da área conhecida como Beiral, às margens do Rio Branco, no Centro de Boa Vista, nesta semana, não foi a primeira ação realizada pela polícia. No ano passado, foi realizada uma operação nos mesmos moldes, inclusive com promessa da instalação de um posto policial, o que nunca chegou a ocorrer.

Porém, o Beiral não é o único nem o principal ponto de venda de droga que destrói vidas e desestrutura famílias. Esse local é o mais vergonho e flagrante porque fica no Centro, a poucos metros da sede dos principais poderes: Governo do Estado, Assembleia Legislativa e Tribunal de Justiça.

Essa boca de fumo a céu aberto desafia os poderes constituídos e põe em dúvida as ações governamentais, pois, desde as primeiras décadas da existência de Roraima, ali abriga ilícitos, que se misturam às famílias de bem, empresários sérios e trabalhadores honestos de várias classes.

Porém, se as autoridades não conseguem “pacificar” uma boca de fumo que só tem uma rua de acesso, então é de se imaginar o que acontece nos diversos bairros, de áreas nobres à periferia mais distante, onde praças públicas tornaram-se redutos de traficantes e onde os olhos dos órgãos públicos não alcançam.

Seria bom que a “pacificação” do Beiral fosse concretizada a fim de que se elimine uma vergonhosa área onde os traficantes dominam. Porém, se isso chegar a ocorrer, não significará que o combate às drogas está vencendo, pois a questão da droga está fora do controle não apenas em Boa Vista, mas na maioria dos municípios do Estado.

Existe uma necessidade urgente de que haja um pacto bem amplo da sociedade a fim de tirar a questão da droga como sendo apenas um problema policial. Colocar mais polícia nas ruas e prender pequenos traficantes não vão reduzir o consumo nem livrar que mais jovens e adolescentes se percam nos braços do vício.

A polícia tem feito o possível, mas até dentro de suas instituições ela tem perdido seus integrantes para o vício,  a exemplo do policial militar filmado pelos próprios traficantes comprando droga no Beiral. Por coincidência, a operação policial que ocorreu por lá foi logo após esse episódio.

O fato é que todos nós, como sociedade, estamos perdendo e dentro da imobilidade. Como não existe uma política de governo séria e efetiva para cuidar da educação, prevenção, tratamento e da conscientização sobre o entorpecente, então jamais a polícia irá conseguir vencer, sozinha, essa batalha.

A “pacificação” do Beiral seria apenas uma gota d’água nesse oceano de graves problemas. Ou se pensa em um pacto urgente, ou continuaremos com paliativos, prendendo “aviões” do tráfico e enchendo cada vez mais as cadeias já superlotadas. Mas quem está disposto a lutar por esse pacto?

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista

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