Momento para ser inteligente

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Jessé Souza*


Caminhando pela Avenida Jaime Brasil, o centro comercial mais antigo de Boa Vista, vi uma cena que resume a situação em Roraima. Duas senhoras caminhavam à minha frente e uma delas parou para dar uma esmola para uma indígena venezuelana que estava sentada na calçada com um bebê no colo.

A outra que estava ao lado repreendeu a sua companheira para que não desse as moedas, falando coisas absurdas sobre a indígena, palavras que não merecem ser transcritas aqui por dois motivos: pelo racismo com os indígenas e pelo preconceito com os venezuelanos.

Os índios venezuelanos pedindo esmola nos centros comerciais e nos semáforos da cidade tornaram-se cena corriqueira em Boa Vista. Como a Venezuela vive um momento crítico, dezenas de venezuelanos têm vindo para Roraima em busca da sobrevivência, muitas vezes sustentando suas famílias que ficaram lá com as moedas que ganham aqui.

Com os indígenas é pior, pois não só a crise financeira os atinge, como também a forte estiagem que tornou as savanas onde eles vivem mais secas do que já eram, impedindo que plantem ou desenvolvam suas atividades de subsistência. Seus rios e igarapés sofrem muita mais o impacto da seca do que os índios que vivem nos lavrados roraimenses.

Sem falar o português e o espanhol, esses índios acabam encontrando enormes barreiras para pedir esmola em um país estrangeiro, sobrando para eles o racismo, o preconceito e a incompreensão. A situação deles é uma questão humanitária, mas a população local os trata como intrusos, invasores, ralé humana ou algo nesse sentido.

O que aquela senhora expressou, para impedir que sua companheira oferecesse a esmola para uma indígena venezuelana com uma criança no colo, é o sentimento que tem crescido em Roraima, que também trata os índios brasileiros que vêm para cidade com racismo e preconceito, os atacando por uma situação que eles não têm culpa e achando que eles não podem estar na cidade só porque a Constituição brasileira garante que suas terras sejam demarcadas e preservadas.

Esse momento de intolerância e extremismo que se abate sobre o Brasil, por causa da política partidária, tem inflado ainda mais esse comportamento irracional em muitos roraimenses, fazendo com que uma questão humanitária seja vista como algo que beira o comportamento que tem sido visto com os refugiados na Europa.

Estamos vivenciando um momento delicado da História. É preciso que as pessoas com conhecimento e reflexão não permitam que isso avance e que se instale no seio de nossa sociedade. Mais que nunca, precisamos de inteligência para superar o momento difícil e complicado. Inteligência.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 

*Jornalista
Acesse: www.roraimadefato.com/main

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