O dia seguinte


O “circo do impeachment”, transmitido ao vivo no domingo pela TV, pode ser resumido no chamado “after day”, ou seja, no dia seguinte, com a prisão do marido de uma deputada que usou a Bandeira do Brasil para votar aos gritos, bradando contra a corrupção, na Câmara Federal.  

Trata-se do caso do prefeito de Montes Claros (MG), Ruy Muniz (PSB), preso pela Polícia Federal na segunda-feira, na manhã seguinte em que a mulher dele, a deputada Raquel Muniz (PSD), afirmou que seu marido "mostra que o Brasil tem jeito", quando justificou se voto pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).

E assim seguiu-se o “circo” feito por muitos corruptos que ali estavami, no plenário da Câmara, sabidamente envolvidos em corrupção, mas fazendo discurso pela moralidade do país e contra a corrupção. Houve até exaltação à tortura dos tempos da ditadura, feita por Bolsonaro. Obviamente que ali estavam também parlamentares que honram o seu mandato e merecem respeito.

Mas o Brasil anda tão infestado que a hipocrisia tomou conta da política e encobre a face daqueles que não se envergonham de seus atos, transitando na sociedade e na mídia como se fossem “guardiões da moralidade” e colocando-se acima de qualquer suspeita.

É por isso que a sessão que votou pelo prosseguimento do impeachment pareceu um “circo do horror”, não pelo motivo em si, que era o impedimento da presidente, nem pelos deputados sérios que ali existem, mas pela hipocrisia dos corruptos que se aproveitaram do clamor e da mídia para se parecerem “arautos da democracia e moralidade”.

Essa infestação que se abate sobre o Brasil é que precisa passar por uma desratização, não apenas pelas mãos da Polícia Federal e da Justiça, mas também pelas urnas. O povo não pode ficar delirando por um processo de impeachment enquanto os corruptos em todos os níveis ficam impunes, pregando discurso em nome de Deus, de seus familiares e de seus redutos eleitorais.

O papel de fazer a desinfecção também precisa passar pelas mãos do povo, pois sabemos que os trâmites da polícia e da Justiça são demorados e podem ser soterrados a qualquer momento, já que há muitos “peixes graúdos” envolvidos e muitos interesses em jogo.

Se assim não for, por meio da faxina do voto, as operações policiais servirão apenas para dar uma satisfação momentânea ao clamor público, com muitos corruptos escapando pelo ralo da conivência, da lentidão da Justiça e da burocracia dos inquéritos, o que permite que muitos envolvidos com desmandos fiquem se passando de “bons moços”. E muitos achando que corrupto justificando o voto ao vivo foi um momento cívico e histórico.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista

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