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O desabamento de uma ciclovia no Rio de Janeiro foi um dos fatos mais falados no fim de semana e que continua repercutindo até hoje. Parece que é um problema específico do Rio de Janeiro, que fora ampliado pela mídia para todo o Brasil. Mas só parece, pois esse caso tem tudo a ver com o momento de degradação política e moral que passamos pelo Brasil.

Embora ainda não haja nenhum laudo confirmando isso, tudo indica que se trata de mais uma obra, a qual custou R$45 milhões, feita aos padrões da corrupção brasileira. Ou seja: os custos e os cuidados são reduzidos, em prejuízo à qualidade da obra, para que sobre mais dinheiro para a corrupção.

No país do impeachment, todas as obras públicas, sem exceção, acabam sendo direcionadas para empresas de políticos ou de grupos que fazem o jogo da politicalha, pagando as “comissões” para o político que direcionou as verbas por meio de emenda parlamentar ou dos governantes responsáveis pela obra.

Essa “comissão” nada mais é do que a “taxa da corrupção”, instituída há anos no país, a qual alimenta não apenas financiamentos de campanhas eleitorais, mas provocam enriquecimento ilícito daqueles que vivem da política partidária como um negócio escuso.

Em Roraima, já houve empreiteira que desistiu da recuperação de um dos trechos da BR-174 porque não concordava mais em pagar a “taxa da corrução” para um determinado político. E sabemos que, para pagar essa “comissão”, é preciso reduzir custo, caso a empresa queira ter algum lucro, que é o princípio de qualquer empreendimento.

Redução de custos em obras afeta diretamente a qualidade do que será entregue, o que significa também “vistas grossas” na hora de fiscalizar para atestar a entrega do serviço e o recebimento do dinheiro. E isso é prática no Brasil desde longos tempos, instituída por um sistema corrupto.

Essa propinagem estabelecida em obras públicas também é responsável por construir obras apenas para alimentar os esquemas, obras essas chamadas de “elefantes brancos”, geralmente prédios fora da realidade local ou que não atenderam aos propósitos a que foram construídos, perdendo a utilidade ou ficando subtilizados ou mesmo abandonados.

Como o valor dessas “comissões” só vem aumentando, então isso acaba provocando outra consequência não menos danosa, como obras paralisadas, obras abandonadas ou obras que sequer começam a ser construídas, ainda que com o dinheiro liberado.

Quando se trata de obras destinadas à saúde, a corrupção custa a vida de muitas pessoas, muito mais do que no caso da ciclovia no Rio de Janeiro. Então, não pensemos que o caso do Rio, pela repercussão que vem ganhando, seja mais grave do que centenas de outros Brasil afora, de gente morrendo porque a corrução engole os recursos para a saúde, educação ou segurança. A corrupção mata em todo o lugar, mais do que uma ciclovia carioca.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista

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