Terra fértil


Jessé Souza*

Corruptos bradando contra a corrupção é revoltante, mas um fato mais preocupante ainda foi a saudação do deputado Jair Bolsonaro a um torturador do tempo da ditadura militar, tema este que logo ganhou repercussão nas redes sociais, mas que demorou ao menos três dias para ser comentado na maior TV brasileira, a Globo.

Não pensemos que a repercussão imediata nas redes sociais foi só de indignação. Muitos se posicionaram a favor de Bolsonaro, sabidamente um parlamentar fascista, que defende a volta da ditadura como “solução” para o Brasil, ideia esta aplaudida por quem se posiciona como ultranacionalista.

E aqui está uma questão melindrosa: uma extrema direita que ganha corpo defendendo o nacionalismo. Ser nacionalista não é ruim, desde que sadio, por amor à Pátria ou por um ideal político. Afinal, nem todo nacionalismo é neonazista ou fascista. Mas existe um “porém”: todos os movimentos fascistas e neonazistas são nacionalistas.

Significa dizer que o nacionalismo que transcende o amor à Pátria passa a ser extremista, a partir da defesa da identidade nacional como algo suprassumo, passando a dividir a realidade entre os nacionalistas (o “nós” glorificados), e os que não são (os “outros” odiados), os que devem ser combatidos.

Como no Brasil ainda sobrevive esse pensamento de que por aqui possa existir comunismo, por mais absurdo que isso seja, então os ultranacionalistas se põem em uma luta do “nós nacionalistas” contra os “outros comunistas” – para os extremistas, qualquer um que defenda direitos e igualdade de minorias passa a ser considerado “comunista”.

Como a História mostra, o nacionalismo germina em tempos de crise. Na Primeira Guerra, o nacionalismo floresceu e fez surgir o que de pior existiu na política no Século 20: o fascismo, um movimento de massas autoritário e populista pautado no anticomunismo, na defesa pela expansão imperialista e em um Estado policial para controlar a vida de todos, pública e privada.

Mas voltemos ao Brasil atual, cercado por crise política e financeira, por corrupto fazendo discurso contra a corrupção, por hipocrisia. Como sobraram fortes resquícios da ditadura militar (Bolsonaro é apenas um deles) e gente que acredita piamente em comunismo, uma paranoia sem limite, então isso é terra fértil para o fascismo.

Os jovens e adolescentes em formação de sua personalidade, e ainda sem formação política, precisam estar atentos para não caírem nesses discursos que enaltecem o nacionalismo como bandeira, se colocando acima de tudo e de todos, como se fossem a glorificação e “a” solução para o Brasil, inclusive apoiando a tortura e a ditadura.

Jovens, leiam um pouco de História e vejam o que aconteceu com a Itália, de Mussolini, e a Alemanha, de Hitler. Não se deixem contaminar por algo tão terrível que deixou marcas profundas na Humanidade. Consciência!

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista

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