EUA, Ruanda e cleptocracia


Essa corrupção endêmica só ocorre no Brasil? Estamos fadados a essa índole de corruptos terceiro-mundistas? A partir desses questionamentos, andei pesquisando, neste fim de semana, sobre o assunto. Como já fiz intercâmbio nos Estados Unidos, no início da década de 2000, quando conheci um pouco da realidade e as nuances da corrupção norte-americana.

Nos EUA, a corrupção existe, não nos moldes do que ocorre por aqui, porque lá a relação das grandes empresas e corporações com a política é bem vigiada, com doações de campanha dentro da legislação, evitando as máfias semelhantes às instaladas no Brasil, onde as empreiteiras pagam propinas para “ganhar” licitações ou fazem doações para campanha por meio de “caixa 2” a fim de manter a cleptocracia.

Essa promiscuidade até chega a existir por lá, mas as atuações ilegais são desmascaradas e os parlamentares acabam sendo pegos de alguma forma, pois não existe imunidade parlamentar para quem comete crimes de qualquer ordem. Aqui, a imunidade é escudo para corruptos, que se perpetuam no poder ou são guindados a ministros estratégicos no governo, a exemplo do que ocorre neste momento, no governo Temer.

Nos EUA, tem surgido um debate na campanha eleitoral. A grande mídia não divulga isso, por motivos óbvios, mas Donald Trump tem ganhado a simpatia da opinião pública não somente por pregar discurso contra imigrantes ou medidas mais extremas, mas também por ser bilionário e dizer que não precisa da grana das grandes corporações para fazer e viver da política, e assim estaria livre para não ser corrompido.

No Brasil, seria impensável um candidato que não precise do dinheiro sujo e das grandes empreiteiras. Além disso, tem o problema do eleitor, que está suscetível a votar no “rouba, mas faz”, pois acredita que não há honesto na política (e ele tem certa razão) e há os que não hesitam em dizer que, se tivesse no poder, também fariam o mesmo.

Neste caso, o eleitor acostumou-se a votar no “menos pior” e, dentro desse contexto, também acaba escolhendo o corrupto que pensa como ele, que defende as mesmas ideias suas. Então o “rouba, mas faz” acaba prevalecendo na hora de decidir o voto.

A corrupção nos EUA não chega também ao nível das cifras da corrupção no Brasil, como tem demostrado os bilhões do “petrolão” na Operação Lava Jato. Outro fato: para se ter uma ideia, em Ruanda, apenas 80% dos recursos públicos acabam chegando para aplicação ao seu destino final, realidade muito parecida com a do Brasil. Os EUA estão longe disso.

Em resumo, em se tratando de corrupção, estamos mais parecidos com Ruanda do que com os Estados Unidos. E os corruptos se proliferam escudado pela imunidade parlamentar e pelo eleitor que vota em determinado corrupto não apenas negociando o seu voto, mas porque este representa sua forma de pensar e agir.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista


*Jornalista

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