Sorte e o pau de galinheiro


O estardalhaço que a Globo fez com o governo de Dilma Rousseff (PT), bradando contra a corrupção e cobrando moralidade, parece que não se aplica ao governo de Michel Temer (PMDB). Além de o tom ter mudado, o discurso agora é completamente alheio à realidade.

Para contextualizar, o novo líder do governo Temer, na Câmara, André Moura (PSC),  é réu da Operação Lava Jato e investigado por tentativa de homicídio. Ou seja, ele não é tão somente um “ficha suja” qualquer, é um “ficha sujíssima”. Seria o suficiente para haver panelaços e uma corrente de indignação nas redes sociais.

Ao noticiar essa informação do novo líder “pau de galinheiro”, a Globo não só falou fino, na manhã de ontem, como a entrada ao vivo do festejado comentarista Alexandre Garcia foi no mínimo ridícula: “Depende da sorte”. Ou seja, no governo do PT, investigado assumir um cargo era pilantragem, mas, no governo Temer, um “ficha sujíssima” ficar à frente de um cargo importante é “questão de sorte”.

Os corruptos transitam na sala de estar, em Brasília, e ainda sapateiam na cara do cidadão brasileiro em cadeia nacional. E parece que a mobilização contra os desmandos na política arrefeceu, como se este “novo” governo já fosse suficiente em si mesmo, resolução de todos os problemas do país.

Sabemos que o governo Dilma não voltará mais por todos os motivos que já conhecemos, além de não ter mais nenhum apoio no Congresso nem forças o suficiente para se sustentar perante a opinião pública brasileira.

Então, o cidadão brasileiro não pode tolerar que o governo Temer se acomode no poder e organize sua cleptocracia, com a caneta nas mãos de seus ministros e aliados investigados pela Operação Lava Jato.

Mas, pelo que se desenha nas redes sociais, surge um sentimento de que é permitida a atuação de corruptos, desde que eles não sejam “comunistas”, demonstrando um verdadeiro sentimento de que não haverá salvação para o Brasil, a não ser manter os antigos corruptos que sempre atuaram nos bastidores e que pensam igual à boa parte da sociedade brasileira, em especial à classe média.

Significa que os eleitores que vão decidir os próximos mandatários no país são aqueles que agem como programa de auditório da Globo, que levanta-aplaude-e-senta. Aliás, o programa Domingão do Faustão pela primeira vez não foi ao ar por causa da sessão do impeachment na Câmara Federal, naquele longo domingo.

Porém, a grande maioria dos deputados o representou bem, agindo como se fosse o próprio Faustão no domingo, mandando beijo para seus familiares e suas cidades, querendo que o filho votasse em seu lugar ou pregando discurso de moralidade, mesmo sendo tão sujo quantos os demais corruptos. E, desta forma, a cleptocacria de Temer vai ganhando corpo, como se o Brasil agora fosse o auditório do Projac, bastando sentar, levantar, aplaudir e sentar de novo.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 

*Jornalista

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