Chama, Juma e truques

Reprodução/Twitter


O brasileiro vem sendo contaminado desde cedo, pela cultura televisa, a cultuar ídolos.  O endeusamento à “caixinha mágica” criou uma atrofia intelectual nas pessoas. Desta forma, da tela televisiva surgiu uma fixação por endeusar personalidades vazias e passageiras, daí foi um passo para se tornar uma cultura, a cultura do superficial e descartável. 
Bestializado pela TV, o brasileiro aprendeu a agir como boiada. Basta uma propaganda um pouco mais elaborada, uma lavagem cerebral em forma de telenovela ou uma enganação embrulhada em “Jornal Nacional” para que os cidadãos sejam submetidos a uma histeria coletiva.

Não só os ídolos são galgados a pedestais como se fossem deuses a serem adorados e seguidos. Propagandas comerciais se transformam em “atos cívicos”, uma hipnose coletiva que faz com que eventos feitos para gerar fortunas se pareçam a atos de brasilidade.

O truque da Tocha Olímpica é um desses exemplos clássicos. Um evento comercial feito para faturar milhões à custa do esporte é adotado pelo brasileiro como se fosse sua alma, sua cidadania e sua nacionalidade em questão. E boa parte dos custos dessa jogada milionária sai dos cofres públicos, ou seja, de nosso dinheiro de contribuinte em forma de impostos.

Para vender o produto, os organizadores tiveram a grande sacada de levar a “chama olímpica” por todo o país, passando pelos mais diversos municípios, onde a riqueza das Olimpíadas contrasta com a pobreza e a carência a que muitos brasileiros estão submetidos.

Para piorar o quadro de enganação a que o brasileiro é submetido, a Amazônia foi mais uma vez golpeada. Esse delírio de cultuar a “chama”, que é patrocinada pela Coca-Coca, levou até mesmo o Exército brasileiro a levar uma onça, a Juma, a ser exibida em público e, depois, ser abatida a tiros porque seu instinto selvagem aflorou em fuga e esboçou um ataque  aos seus algozes.

Juma é símbolo da opressão do ser humano sobre a vida selvagem, por isso o papel da onça é agir como onça, com todos os seus instintos. Mas o brasileiro, o ser humano que endeusa ídolos e gosta de mostrar troféus, não tem mais instinto de cidadão livre e pensante. Ele age como boiada, teleguiado por qualquer chamado de comercial enfeitado com as cores do civismo.

É por isso que estamos nesse atoleiro, porque nos foi arrancado o senso crítico. Os corruptos estão zombando da nossa cara, mas estamos submissos a eles e ainda achando que eles são nossos heróis e ídolos capazes de resolver nossos problemas. Os milionários nos fazem correr atrás de uma tocha que só dá mais dinheiro a eles. E, a nós, nos resta muitas “Jumas” mortas e a incerteza de um Brasil sem rumo e direção.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 

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