O purgatório

Imagem: oeuinsolito.wordpress.com

É preciso viver o problema para ter uma noção de como ele é. Estou me referindo à situação do atendimento no Hospital Coronel Mota. Tenho recorrido ao Sistema Único de Saúde (SUS) para resolver um problema neste corpo cansado de batalha, e me deparei com uma triste realidade ali. Não se trata de mau atendimento em si, pois há servidores fazendo o possível.

Há uma desorganização completa, desumana, que pune não somente o paciente, o mais prejudicado, mas também os servidores que ali estão trabalhando no limite, visivelmente estressados pela desordem a que eles são submetidos.

O paciente, este que já está sofrendo por seus problemas de saúde, é duplamente penalizado quando chega ao hospital, principalmente se ele não conhecer como funciona aquele amontoado de gente com os mais diversos problemas de saúde em um prédio público velho.

Vez por outra, uma servidora que faz o atendimento dos pacientes tem que sair de sua bancada, por detrás de um vidro, para falar pessoalmente com quem está na fila, para poder informar aonde cada pessoa deve se dirigir, em vez de inchar a longa fila que desespera a todos, pacientes, acompanhantes e servidores.

Isso ocorre porque não há alguém ou um serviço específico para prestar informações a quem chega. Então, todos vão para a fila ou ficam perambulando pelos corredores, implorando informação, tumultuando o que é já complicado, sem saber a quem recorrer.

Aquela balbúrdia poderia ser aliviada se a pessoa recebesse informação adequada para onde se dirigir, em vez de interromper o serviço das atendentes que marcam exame, retorno, consulta, pegam prontuário ou tiram a carteirinha de paciente.

Os que comandam aquele hospital acham que os papéis fixados na parede de qualquer jeito, sem ter um lugar específico e sinalizado, informam alguma coisa, como se todos que chegam soubessem ler, pudessem ler ou interpretar informações que nada dizem e que ficam em papéis colados na parede, escondidos entre as pessoas que estão na interminável fila.

Como todo esse atendimento é feito em uma sala apertada, que é a entrada principal para todo o hospital, então a longa fila de gente se espremendo se misturar com gente que chega ou sai de muletas, de cadeiras de rodas ou se arrastando por alguma enfermidade. Parece a antessala do purgatório.

Desafio uma autoridade fiscalizadora qualquer (serve alguém das ouvidorias), sem avisar e sem recorrer a pistolões ou conhecidos, ir lá marcar uma consulta ou pegar uma informação. Tenho certeza que, ao final de sua experiência, sairia dali não apenas atônita, mas horrorizada com a confusão que é aquele serviço tão importante a quem só tem o Estado para recorrer.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

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