Silêncio e boi de piranha


É inacreditável como a opinião pública brasileira desmobilizou sua indignação com a corrupção que consome o Brasil. Dos panelaços e manifestações públicas, restou um silêncio preocupante que se assemelha a um consentimento para que os corruptos continuem se articulando para continuar se mantendo no poder.

Está muito claro que existe um movimento muito forte para enterrar a Operação Lava-Jato a fim de livrar não só a mais alta cúpula da política brasileira, com destaque para o PMDB e o PSDB, mas também impedir que as investigações cheguem aos demais poderes, como indicam as últimas gravações divulgadas.

Havia um argumento bem recorrente antes do afastamento de Dilma: “Primeiro tiramos o PT, depois partiremos para o PMDB e os demais partidos”. Mas não é isso o que está ocorrendo, com o arrefecimento das denúncias pela TV Globo, que inflamou o Brasil a favor do impeachment, mas agora não dá o mesmo tom à Operação Lava-Jato e às demais denúncias muito mais graves que estão surgindo.

Sem pressão popular, o golpe (ou complô ou o grande acordo - ou seja lá o adjetivo que queiram usar) segue tentando livrar Jucá das seguidas denúncias explícitas apontadas nas gravações, salvar Cunha da cassação, esconder Aécio da bandalheira em que está atolado e tentar blindar Temer, além de apontá-lo como um presidente que está interessado em mudar o Brasil para melhor.

A confiança na impunidade é tão grande que Jucá, no plenário do Senado, chamou de “babacas” as pessoas que estavam divulgando as denúncias contra ele. E o conluio é tão forte que até hoje não houve prisão de ninguém fora do círculo do PT, embora as denúncias que estejam surgindo contra caciques dos demais partidos sejam muito mais graves do que foi delatado por Delcídio em sua delação premiada.

O fato é que o povo foi mais uma vez manipulado com apoio da Globo e ficou sem reação quando descobriu que serviu de fantoche para atender aos interesses de uma máfia que tomou conta do Brasil e que pretende restabelecer seu poder dentro de um acordo que, ao que parece, envolve também o Judiciário.

Como todos estão em silêncio, o caminho está livre para o grande golpe, o conluio, o complô ou o grande acordo siga seus planos. Como bem disse Jucá na gravação, estão jogando um “boi de piranha” no meio dessa lama de corrupção para que a maioria consiga chegar inteira do outro lado. E o povo do panelaço e das camisas da Seleção brasileira (que, aliás, nem consegue mais ganhar do Peru que faz gol com a mão) se enterrou no lodo que surgiu de toda essa bandalheira.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 

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