Purgatório e desvalidos


Retornei novamente ao Hospital Coronel Mota na manhã de ontem. Não há como não se impressionar com aquele cenário que mais parece a antessala do purgatório, não pela estrutura física e pelo atendimento em si, mas  por tanta gente desvalida em busca de atendimento médico. Gente se arrastando, gente engessada, gente amputada ou com cicatrizes que indicam que por pouco não perdeu a perna, idosos, muletas, cadeiras de rodas....

O atendimento na recepção até chegou a melhorar, pois colocaram uma moça para prestar informação com uma blusa azul estampada nas costas “Posso ajudar?”. É uma moça com semblante tenso, sem alegria, porque ali é um cenário de pós-guerra mesmo, não dá para ficar sorrindo com tanta gente remendada ou com idade avançada e doente, tudo no mesmo bolo.

Da última vez que estive lá, faz duas semanas, era uma Torre de Babel horizontal, pois ninguém sabia a quem recorrer para buscar informação; e as moças do balcão de atendimento tinham que sair de suas cadeiras para atender os desvalidos na fila, perdidos porque não sabiam aonde ir, o que fazer ou a quem lamentar.

Já imagino o governo querendo explicar essa situação: “Isso é o possível e o melhor que estamos fazendo”, “culpa da administração passada”, “estamos reestruturando”, “vai melhorar”... Mas é isso mesmo.  A situação ficou largada há tanto tempo, que é impossível ajeitar aquela confusão em um prédio antigo, do tempo dos meus avós, com uma demanda grande de gente precisando de atendimento médico.

Lembro quando fui cliente pela primeira vez desse hospital, faz quase duas décadas. Já era um prédio caquético, ultrapassado, com o necrotério logo ao lado da entrada da emergência, acho que para não ter trabalho para carregas os corpos.

Os anos se passaram e o velho Hospital Coronel Mota ainda aguenta o tranco sem desabar na cabeça dos pacientes, dos funcionários e dos médicos. Quando fiz uma cirurgia de emergência, no início da década de 90, recordo que o médico, aos gritos, mandou que me trocassem de centro cirúrgico porque, onde eu estava, havia uma goteira no teto.

Os tempos são outros, mas o descaso dos seguidos governantes é o mesmo. O Hospital Geral de Roraima (HGR) também chegou ao seu limite faz tempo, mas somente agora estão construindo um anexo sabe-se lá para quando. O Hospital das Clínicas está saindo aos trancos e barrancos (para usar uma expressão rococó).

Não há saída para os desvalidos. Esse caos, para ser reparado, demanda não apenas recursos, que estão escassos, mas vontade política, empenho e pensamento fixo por parte dos administradores. Mas os noticiários estão mostrando como os políticos estão agindo, surrupiando bilhões da Petrobrás para bancar suas campanhas eleitorais. Ninguém tem tempo de resolver os problemas do povo quando se está pensando em roubar.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 

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