Hora de ajudar


É uma sensação muito ruim ver diariamente, pela janela do carro, os inúmeros venezuelanos, jovens, adultos e idosos, pedindo moedas nos semáforos de Boa Vista.  Nesta semana, começaram a chegar inclusive garotas adolescentes que ficam limpando para-brisas de carros no semáforo do Ibama. 

Não muito distante dali, nas proximidades da Feira do Passarão, o cenário é outro: são inúmeras mulheres venezuelanas que passaram a vender seus corpos nas esquinas do bairro Caimbé, numa feira-livre da prostituição que só se via em grandes centros urbanos. 

O quadro foi provocado pela crise sem precedentes que a nossa vizinha Venezuela enfrenta. Antes, éramos nós, brasileiros, que íamos lá em busca de preços melhores para fugir da inflação do lado de cá. Hoje são eles que vêm em busca não de “produtos mais baratos”, mas da sobrevivência, fugindo da fome. 

Trata-se de uma questão humanitária, porém, não estamos em um momento bom para ajudar ninguém em crise, pois o Brasil, em especial Roraima, passa por um momento econômico e financeiro muito ruim. Mas há uma forma de ajudar sem tirar um centavo do bolso: não agindo com preconceito ou xenofobia contra os venezuelanos; ou mesmo com racismo contra as senhoras indígenas venezuelanas.

Já houve quem fosse para as redes sociais ridicularizar os estrangeiros malabares que estão nos semáforos tentando ganhar uns trocados, incutindo na opinião pública um preconceito gratuito por meio do escárnio, justificando que se trata “apenas de uma piada”, “uma inocente brincadeira”.

O momento que vivemos não está para brincadeira de qualquer espécie, principalmente quando se fala de minorias, pois o ódio tem aflorado no mudo ao primeiro boato, bastando para isso que alguém insufle as pessoas de alguma forma. Cegas pela ignorância, as pessoas têm encontrado motivos para odiar tudo aquilo que for considerado uma “ameaça”.

Nas redes sociais, é possível ver que os venezuelanos são colocados como uma “ameaça” - ao emprego dos boa-vistenses, ao engrossamento da pobreza, à mendicância e até mesmo ao aumento da violência, como se todos os estrangeiros agora fossem um bandido em potencial. 

Como os insanos e enraivecidos perderam o medo de se expressar na internet, o que se espera das pessoas de bom senso é que ajam com inteligência, enxergando nos venezuelanos uma vítima de um governo tirano, e não como intrusos, ameaças ou bandidos. 

Se não pode ou acha que não deve ajudar de alguma forma, o melhor a fazer é não atrapalhar ou não jogar a opinião pública contra eles. Já será uma grande ajuda a quem precisa de acolhimento e compreensão. 

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 


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