O tempo...


Há exatos 14 anos, quando estive visitando comunidades indígenas nos Estados Unidos, vi um fenômeno ocorrendo por lá: como muitos perceberam que os nativos (é assim que os índios são chamados por lá) estavam conseguindo estabelecer-se economicamente, muitos norte-americanos passaram a reivindicar sua identidade indígena com a intenção de se beneficiar das leis nos estados indígenas.

A busca por um reconhecimento de etnia era tanta que foi preciso aprovar leis que estabelecessem uma porcentagem de sangue indígena correndo nas veias para que a pessoa fosse reconhecida como nativa americana. 

Há algum tempo  depois, andei comentando na rede social Twitter que isso iria ocorrer em Roraima, ou seja, que a demarcação das terras indígenas seria confirmada pela Justiça, as comunidades indígenas iriam conseguir se tornar um dos braços da economia local, ainda que incipiente, e que, depois de perceberem isso, muitos iriam buscar sua identidade indígena para passar a se beneficiar da nova realidade.

Ainda está um pouco distante de as comunidades indígenas conseguirem sua autonomia, mas já existem pessoas interessadas nos benefícios que os povos indígenas dispõem atualmente para que possam caminhar futuramente para esta nova realidade, como o ingresso na Universidade Federal de Roraima (UFRR). Já existem denúncias formalizadas sobre gente que conseguiu, de forma fraudulenta, uma identidade indígena que possibilitou o acesso a cursos superiores.

Embora os “desenvolvimentistas a qualquer custo” não queiram reconhecer que as comunidades indígenas se tornarão uma peça importante na engrenagem do desenvolvimento desse Estado, o futuro vai mostrar que as potencialidades das áreas indígenas irão despontar de alguma forma, seja pelos projetos de autossutentação ora em curso, pelo turismo ainda inexplorado ou pela exploração mineral organizada, que futuramente pode ser aprovada pelo Congresso.

Seja qual for o caminho adotado pelas etnias e pelas diversas comunidades, de acordo com suas realidades e com seus projetos de vida, no futuro as pessoas irão correr em busca de uma identidade indígena a fim de fazer parte desta nova realidade, alguns por meio da fraude, mas outros por direito mesmo e por não terem acreditado antes. 


Hoje já existe gente que, não faz muito tempo, não se reconhecia indígena e até se colocava contra os interesses das comunidades de onde veio, mas agora passou a ter orgulho de ser reconhecida como indígena pela sociedade envolvente e que se beneficia da identidade e riqueza cultural indígena a fim de ganhar reconhecimento e dinheiro. 

E isso é apenas o começo. O futuro vai provar que os índios precisam ser considerados como mais uma peça nessa engrenagem social e econômica. O tempo sempre será o senhor da razão!

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

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